janeiro 31, 2014

A Vênus das Peles



Vénus de Vison é o retrato mordaz de um autor atraiçoado pela própria criação.
....
"Para além das excelentes personagens, a longa-metragem de Polanski destaca-se igualmente pelos pequenos pormenores como os objectos invisíveis que se revelam através dos sons, genialmente presentes. Sabemos onde está a chávena, o pires ou a colher mesmo sem os ver. Ao mesmo tempo, tecnicamente, o realizador movimenta-se como ninguém num único espaço, coloca-nos muitas vezes na pele de Vanda - o início e final do filme são os exemplos mais flagrantes e que aguçam o carácter quase imaginário da personagem -, a fotografia de Pawel Edelman joga com luz e sombra tão perfeitamente como Vanda sabe iluminar o palco do teatro perante o olhar incrédulo de Thomas. A acompanhar toda a atmosfera teatral e dominadora - até do espectador - está a delicada e muito adequada banda sonora de Alexandre Desplat". (AQUI)




"LEOPOLD VON SACHER-MASOCH nasceu em 1836 na cidade de Lemberg,situada na Galícia, província ao sul da Polônia que, desde 1772, estava incorporada ao Império Austro-Húngaro. Hoje sua terra natal fica em território ucraniano. Entretanto,definia-se a si mesmo como alemão, invocando sua identidade com a língua germânica, ria qual pensava e "sentia". Tal identidade não impediu que sua verdadeira terra, a Galícia e os legendários Cárpatos, fossem o cenário de seus primeiros escritos, que ainda guardavam um caráter regionalista. Filho de família aristocrática, aprendeu empequeno o francês, língua em que se alfabetizou juntamente com o alemão, para enfimestudar filosofia e ciências. Desde cedo alimentou o sonho de se tornar um escritorimportante e reconhecido. Para tanto, elaborou o projeto de publicação de um conjuntode livros que se chamaria O legado de Caim, no qual retrataria aspectos da condição humana. Esse tema era, de fato, o que mais o instigava, e que viria a ser o motor de suaprodução literária. Tanto que o presente romance, A Vênus das peles, foi a obra que o imortalizou, exatamente por abordar, de modo direto e corajoso, em um aspecto tão misterioso e intrigante da alma humana que é o prazer sensual que se pode extrair do sofrimento.
0 masoquismo, como ficou conhecida essa tendência, é algo que desafia toda lógica utilitarista ou biológica, oferecendo-se como um dos enigmas mais formidáveis dos aspectos trágico e simbólico da condição humana.A curiosa história de Severin, que se faz escravizar por Wanda, contém os mais diversos ingredientes da paixão encerrada pelo sofrimento físico e moral. Descerra, de maneira explícita e detalhada, o universo das fantasias poderosas que nutrem a paixão e regem aquela excitação que se condiciona aos sofrimentos físico e moral.
Deixar-se amarrar e ser chicoteado pela amante corresponde ao primeiro; obedecê-la cegamente, deixar-se humilhar por ela, entregar-se-lhe como posse e, requinte da fantasia, assisti-la entregar-se a outro amante, corresponde ao segundo. Mais do que retirar o véu que costuma cobrir as fantasias mais estranhas e secretas, o texto de Masoch põe em marcha as ações necessárias a sua consubstanciação, ali condensadas no instituto emblemático do contrato.
Antes da publicação de A Vênus das peles,
Sacher-Masoch já era um escritor conhecido por diversas obras, entre as quais se destacava o livro
Conto galiciano,de 1858. Mas sua consagração como escritor maior viria com a publicação de romances que, embora pudessem ser vistos como obras sentimentais por olhos ingênuos ou desavisados, não tardaram a ser identificados como portadores de um plus de erotismo que transcendia os romances tradicionais. A partir daí, ele passou a ser visto primordialmente como um escritor maldito.Entretanto, por uma ironia, a fama que auferiu na qualidade de escritor seria sobrepujada por aquela que adveio da utilização de seu próprio nome na invenção da palavra masoquismo.
Justa ou injustamente, Masoch passou a ser mais conhecido conhecido como aquele escritor que emprestou seu nome a este termo do vocabulário psiquiátrico do que pela sua própria obra. Vamos aos fatos".

Flávio Carvalho Ferraz  ( Introdução)  Link para a   continuação

Nenhum comentário: