janeiro 20, 2014

A GRANDE BELEZA


"Através da utilização de um amálgama da sintaxe felliniana e antonioniana com pitadas de De Sica, Sorrentino expõe seu aperçu da “Romanitá” na atualidade e faz um filme carregado de uma sensualidade plena de tristeza e estranheza. E nada escapa da sua metralhadora sarcástica, embora terna e compassiva. Literatura, religião e arte contemporânea são alvejadas pelo seu olhar acerbo e a sociedade, em geral, e a italiana, em particular, são estraçalhadas por ácidas críticas aos valores superficiais, estereotipados e intelectualóides, como, por exemplo, uma “pintura” feita por uma menina mimada e enraivecida ser considerada obra de arte ou uma performance vazia de significados ser elevada à grande arte (aqui, uma crítica direta à famigerada e festejada Marina Abramovic). Ou um cardeal, forte candidato ao papado, que parece se interessar apenas por receitas culinárias. Imagens belíssimas enfatizadas pela iluminação, diálogos e reflexões provocadoras e inteligentes são intercaladas com melodias líricas intimistas e batidas eletrônicas, que curiosamente, combinam harmonicamente e dão ao filme uma estrutura quase inconsútil. Vale ressaltar, entretanto, que o filme não seria o mesmo sem Toni Servillo. Esse ator incorpora com precisão o personagem e dá toda credibilidade e dimensão ao papel, conseguindo expressar com grande elegância a melancolia insuportável e intensa de alguém que chega aos 65 anos com uma lucidez serena e que consegue ver um vazio demasiadamente repleto, sentir o peso da superficialidade e a falta de sentido, mas mesmo assim saboreia seu próprio ennui como uma praliné belga. 
Imperdível!"

Vicente Castro Teixeira

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