dezembro 11, 2013

Manoel de Oliveira faz 105 anos


"Na sua última vinda ao Brasil, para a Mostra, Manoel de Oliveira, já centenário, explicou porque havia rompido com o produtor Paulo Branco – “Preciso pensar no meu futuro.”
 Outra história do mestre – ele chamou um conceituado ator do teatro português, do Porto, oferecendo-lhe um papel. Isso foi há três anos. O cara declarou lisonjeado, mas declinou – disse que estava com a agenda cheia. Oliveira esclareceu – era para um filme a ser rodado em 2015, daqui a dois anos, portanto. E seu neto, Ricardo Trêpa, definiu o avô – “Quando filma, ele está sempre bem. O problema é que tem projetos para os próximos 100 anos. Sua paixão pelo cinema o mantém vivo, mas um dia sabemos que isso terá de acabar.”
Que não seja agora. Manoel de Oliveira, que completa hoje 105 anos, não é só um fenômeno de longevidade. Volta e meia, surgem notícias de que teve de ser hospitalizado e ele não pôde vir à Mostra, em outubro, porque as companhias aéreas o consideram um passageiro de risco em voos transatlânticos. Só que Oliveira vem resistindo a tudo e, a cada novo filme, ainda consegue surpreender. Uma meia-dúzia de críticos vai querer colocar um filme português entre os dez mais do ano, e vai escolher Tabu, de Miguel Gomes. Haverá, com efeito, um português entre os melhores de 2013, mas será O Estranho Caso de Angélica, de Oliveira.
Ele nasceu no Porto, em 11 de dezembro de 1908. A família era abastada, e Oliveira teve o que se chama de jeunesse dorée. Estudou nas melhores escolas, praticava esportes. Existem fotos antigos que o retratam como piloto de automobilismo. Os anos de natação esculpiram seu físico e ele tinha pinta de galã, à Cristiano Ronaldo. Aos 18/19 anos, o jovem Oliveira encantou-se pelo cinema. Foi ator, inclusive do primeiro filme falado feito em Portugal – Canção de Lisboa, de Cottibeli Telmo. Só que Oliveira tinha outras ambições. Impressionado com Berlim., Sinfonia de Uma Cidade, de Walter Ruttmann, ele decidiu que o que lhe interessava no cinemas era ser diretor.
Com apoio da família endinheirada, fez seu primeiro longa – Porto, Fauna Fluvial. As imagens foram captadas entre 1927 e 29, o filme estreou em 1931. Chamou atenção, mas provocou acirrados debates. Prós e contras. Pelos anos seguintes, Oliveira continuou fazendo curtas documentais. E então, em 1942, surgiu Aniki-Bobó, sobre a juventude do Porto, num registro que hoje, em retrospecto, parece neorrealista. Só que não existe nada menos realista que o cinema de Oliveira. Toda sua obra, a par das grandes linhas temáticas, é toda ela uma reflexão (teórica?) sobre o cinema. Oliveira seguiu errático pelos próximos anos e, em 1959, provocou de novo polêmicas com O Pão.
Nos anos 1980, em sua enciclopédia de cinema, o francês Roger Boussinot dedica um extenso verbete ao artista. Chama-o de gênio, mas diz que isso não basta para superar a adversidade. Se tivesse nascido num país com mais tradição de cinema e sem a ditadura de Salazar, Boussinot chega a afirmar que teria sido um dos maiores do cinema. A enciclopédia para justamente quando ocorre a grande revolução na vida de Oliveira. Em 1981, ele faz Francisca, e é o verdadeiro início de sua obra.
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LEIA AQUI  a continuação  do texto de Luiz Carlos Merten

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