outubro 13, 2013

BARCELONA


"Moderna sempre esteve no topo da lista dos adjetivos mais comuns de Barcelona. Nada mais justo a respeito de uma cidade, que no final do século XIX já transbordava inovação, servindo de canteiro de obras para mestres como Antoni Gaudí (obras ) e Lluís Domènech i Montaner (obras ). E seguindo sua índole avant-garde, a capital da Catalunha continua se modificando. Na última década, a região que melhor representa esse espírito está em seu quadrante sudeste, numa área denominada 22@. A nomenclatura com inspiração tecnológica faz sentido: além dos modernos prédios erguidos nos arredores da Plaça de les Glòries Catalanes, como a polêmica  Torre Agbar, a antiga região industrial vê fábricas e galpões abrirem espaço para empresas high-tech, interessantes áreas verdes e novos centros culturais.
Mas ainda há lugar para a velha Barcelona, como nas ruas pacatas de Poblenou, um bairro criado entre operários e pescadores, que mantém ambientes quase interioranos a poucas quadras da praia.
A mais polêmica construção da cidade, a Torre Agbar, um colosso de 144 metros de altura, em aço e vidro, que pode ser visto de diversos pontos de Barcelona.

Projetado pelo premiado arquiteto francês Jean Nouvel e construído entre 2001 e 2004, este edifício de escritórios é o terceiro mais alto da cidade e suas únicas atrações turísticas são o mirante, no último dos 34 andares, e a fachada, com 4.500 janelas e cerca de 40 tonalidades de cor, que ganha iluminação especial à noite. Ainda assim, o projeto causa descontentamento na maioria da população, por sua forma de pepino gigante.
Polêmicas à parte, a torre virou um símbolo da modernização desta parte da cidade. Ao seu redor vão surgindo novos edifícios também arrojados em sua arquitetura.

Quase vizinho à torre foi construída a nova sede do Disseny Hub Barcelona, o museu dedicado ao design. A área total de 30 mil metros quadrados juntará o Museu de Artes Decorativas, o Museu Têxtil e de Vestuário e o Gabinete das Artes Gráficas, além de abrigar uma importante escola de design. Belos jardins e espelhos d'água fazem parte do projeto do arquiteto Oriol Bohigas. 
O Museu de la Música  o  L´Auditori, é um moderno espaço cultural musical na Avinguda Meridiana, a poucos passos da Glòries. Para quem gosta de música, uma visita a este complexo é obrigatória, seja para um dos concertos diários (de música erudita a rock, passando por flamenco e jazz), seja para conhecer o impressionante acervo de instrumentos que remontam à Antiguidade. A mostra permanente é feita com audioguias, o que permite ao visitante escutar o som da maioria dos instrumentos. Afinal, melhor do que ver um alaúde medieval é saber como ele soa.
Do outro lado da rua está o Teatre Nacional de Catalunya, TNC o principal palco das artes cênicas da cidade. O prédio, de 1996, é inspirado nos templos gregos, com colunas clássicas nas laterais. Mas as paredes de vidro e o interior revelam mais um entre os projetos arrojados do bairro. Em suas três salas, se encenam desde grandes produções internacionais a textos de autores catalães. Entrar para assistir a uma peça na língua regional pode ser uma das coisas mais originais a se fazer em Barcelona.
Outro programa fora do comum é barganhar no Encants Vells, a feira de antiguidades que funciona, quatro dias por semana, no lado norte da praça, num espaço chamado de Fira de Bellcaire. 

Garimpando, é possível encontrar verdadeiros "encantos antigos", como o nome sugere. Mesmo que parte do mercado de pulgas tenha virado um feirão popular (desses onde se vendem tênis falsificados), é curioso ver, ao fundo de barracas vendendo louças de 200 anos, a Torre Agbar, símbolo de uma nova Barcelona.
O nome está mais para o de uma agência de publicidade do que para uma região. Mas é por 22@ que, há 11 anos, se conhece boa parte dos bairros de Poblenou e Sant Martí, antigos redutos industriais de Barcelona. 

A modernidade da sigla é uma atualização de "22A", código para ocupação industrial do solo, e também uma proposta para rejuvenescer o quadrilátero compreendido entre o Porto Olímpico, a Gran Via de les Corts Catalanes, a Ronda Litoral e a Rambla Prim, um espaço equivalente a 200 campos de futebol. Antigas fábricas dão lugar a empresas de tecnologia ou informação e parques. Mas sem perder a essência de bairro tranquilo.

Um dos melhores exemplos de reutilização do espaço urbano é o Parc del Centre del Poblenou, uma área verde de 55 mil metros quadrados, na Avenida Diagonal. Projetado por Jean Nouvel (da Torre Agbar), é a mais nova área de lazer da cidade, aberta em 2008. Da antiga fábrica que funcionava ali sobrou apenas a chaminé, cercada por estruturas metálicas que, ano a ano, vão sendo cobertas por trepadeiras. Assim como seus muros e portões, já completamente cobertos por vegetação. Jardins aromáticos e brinquedos integrados às plantas mostram o a preocupação de educação ecológica da área.
Mas nem só de prédios arrojados e parques inovadores vive Poblenou.

O local onde o bairro tem mais cara do que era a antiga Barcelona é em sua rambla. Plátanos de lado a lado, restaurantes com mesinhas no calçadão, vizinhos papeando nas esquinas, crianças voltando da escolas, homens jogando cartas nos bares... O ritmo por ali é mais tranquilo que em outras ramblas. Pare na Orxateria El Tio Che, tradicionalíssima sorveteria em funcionamento desde 1912 e compre o turrón, um doce típico de amêndoas.
Se não estiver com pressa, explore as transversais. Na Carrer de Pallars, há restaurantes transados e o centro cívico Can Felipa, uma antiga fábrica transformada em área para atividades de lazer e exposições para artistas locais. Na Carrer Marià Aguiló, lojas de roupas e um dos acessos para o escondido Mercado do Poblenou. E na Carrer de Fernando Poo, a Plaça Prim, um dos resquícios mais bem preservados do antigo bairro onde pescadores e operários viviam em casas simples. Umbus centenários fornecem sombra e uma bica no centro da praça, água fresca. A Prim foi o coração do bairro durante seus primeiros anos e importante reduto de sindicalistas. Hoje, resta a tranquilidade de uma Barcelona que não existe mais.

Nudistas e placa de energia solar na orla
Já imaginou se bronzear aos pés de uma placa de energia solar? E uma praia de nudismo que surge, sem qualquer aviso, em plena área urbana? Isso pode acontecer na orla de Barcelona.

El Pez, a escultura que lembra um estilizado peixe gigante, de Frank Gehry, na altura do Porto Olímpico, costuma marcar uma espécie de fronteira invisível no litoral barcelonês. A partir dali,  as cinco praias que se seguem à marina criada para os Jogos de 1992 representem boas opções para quem quer se banhar com mais tranquilidade ou simplesmente fugir da concorrida Barceloneta.

As primeiras praias desse trecho menos movimentado - a pequena Nova Icària e Bogatell, esta, na altura de Poblenou - têm toda a estrutura existente nas demais: restaurantes na areia, guarda-sóis (para os clientes dos restaurantes, claro), chuveiros, banheiros públicos, aparelhos de ginástica e brinquedos curiosos, como uma pirâmide de cordas. Toda a orla é margeada por parques e pequenas áreas verdes e de lazer, com direito a campos de futebol e quadras de tênis.
Assim como na maior parte do litoral espanhol, nas praias de Barcelona o topless é comum. Mas para quem não quer saber de mais liberalidade que isso, melhor evitar Mar Bella.


A aura liberal de Mar Bella não se restringe à prática do nudismo.
Mas nem de longe Mar Bella é o caso mais curioso do litoral barcelonense. Mais duas praias completam a orla (Nova Mar Bella e Llevant) até que o visitante chega à região conhecida como Fòrum, batizada assim por causa do Fórum da Cultura, realizado ali, em 2004. Uma das heranças é uma placa de energia solar, de 10,5 mil metros quadrados, aos pés da qual está a Banys Fòrum, a área de banho mais exótica da cidade. Não chega ser uma praia, porque não há areia. O banhista desce à água por uma escada, como se fosse uma piscina. 
Do outro lado da placa está o acesso à elegante Marina Fòrum, com barcos e iates bem cuidados enfileirados e uma bela vista para as praias da cidade vizinha, Badalona.
O complexo tem também o moderno Centro de Convenções Internacionais de Barcelona (CCIB) e o novo Museu de Ciências Naturais, no intrigante Edifício Fòrum: um enorme triângulo azul, com espelhos na fachada, que causam um interessante efeito tanto para quem passa em frente quanto para quem caminha por seus pilotis. Sua exposição permanente, "Planeta vida", trata dos fenômenos naturais de forma interativa, com muitos recursos tecnológicos.
Uma visita à região precisa incluir o Parc de Diagonal Mar, mais um orgulho de barcelonenses em forma de área de lazer. Os 14 hectares antes ocupado por fábricas agora são preenchidos por amplos jardins, mirantes, lagos artificiais e esculturas de tubos metálicos, que ditam o tom futurista dessa borda de Barcelona, moderna por natureza.
EDUARDO MAIA

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