setembro 03, 2013

Improváveis depravadas


"Sonhei com o Cauã Reymond.
- É? Como foi o sonho?
- Não posso contar. Foi um sonho erótico.
Abri a boca, mas não soube o que dizer. Minha amiga já tinha seus setenta e tantos anos, e eu já a tinha retirado do páreo dos sonhos eróticos.
Fiquei rindo de boca aberta enquanto ela continuava com seu risinho de menina saliente, até eu me envergonhar da possibilidade de estar vazando preconceito pelos olhos. De fato.

- Você acha que eu não tenho sonhos eróticos?!

No meu arquivo interno, Cleonice (vamos chamá-la assim) já estava na prateleira das mães. Mãe como minha mãe, minha sogra, minhas tias e todas estas deliciosas senhoras de minha vida que eu jamais imagino protagonizando sonhos eróticos.
Mas, rapidamente, tentei construir em minha cabeça o sonho de Cleonice. Era difícil imaginá-la com Cauã. É totalmente desprovida de vaidade, ganhou alguns quilos com os anos e se parecia muito com uma professora de geografia que eu tive no colégio, de quem eu não conseguiria desenhar sequer um beijo.
Comecei a me perguntar se, em seu sonho, Cleonice se via como era agora ou como tinha sido. Qual é a imagem que temos de nós mesmos em nossas fantasias eróticas? Nossas rugas e nossos quilinhos a mais migram para os nossos sonhos?
Com qual Cleonice esteve Cauã Reymond naquela noite? A que tinha se olhado no espelho naquela manhã com as rugas banhadas pela juventude do galã ou uma imagem de Cleonice, que ela mantinha guardada num álbum empoeirado, mas que ainda a ajudava a andar serelepe por aí, evitando os espelhos de plantão e compondo seus sonhos eróticos?
Sexo é algo que pertence mesmo a todos, em todas as idades. Todo mundo faz. Se não faz, pensa. Sempre se quer e pouco se fala.
O sonho de Cleonice me foi revelador. Vez por outra, me pego a suspeitar do potencial erótico escondido nos mais cândidos velhinhos e não consigo mais olhar pro Cauã sem pensar nela, uma Cleonice na idade que está, mas com uma pitada de Marilyn e cheia de felicidade.

Denise Fraga 

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