agosto 11, 2013

"Eichmann em Jerusalém"


"Ler Hannah Arendt é um desses raros prazeres que todo bom leitor deveria ter na vida, mesmo que sua primeira impressão seja que os temas que ela aborda em seus livros não lhe digam respeito. A filósofa judia de origem alemã (1906-1975) tem uma capacidade de observação e análise que torna a sua escrita ao mesmo tempo simples e profunda, tornando acessíveis ao leigo os assuntos aparentemente mais impenetráveis. Em “Eichmann em Jerusalém – um relato sobre a banalidade do mal” (Companhia das Letras, 1999), ela se dedica a tentar entender todas as múltiplas facetas envolvidas no julgamento do criminoso nazista Adolf Eichmann, também nascido em 1906 e executado por enforcamento em 1º de junho de 1962, justamente como resultado do processo penal do qual foi réu em Jerusalém. Eichmann foi sequestrado em Buenos Aires em 11 de maio de 1960 e levado secretamente para Israel 10 dias depois, gerando uma crise diplomática com a Argentina, que não demorou a ser resolvida, aproveitando o fato de que Eichmann vivia com identidade falsa em terras portenhas e era, portanto, apátrida segundo os acordos internacionais então vigentes. O governo israelense, liderado à época por David Ben-Gurion, queria aproveitar a ocasião e mostrar ao mundo o julgamento de um criminoso nazista no solo do país para, sobretudo, fazer com que o holocausto judeu não caísse no esquecimento (e os crimes correspondentes não fossem alcançados pela prescrição) 15 anos após o fim da Segunda Guerra, razão pela qual permitiu que o julgamento fosse transmitido pela TV a todos que se interessassem. Tudo isto contribuiria, imaginava Ben-Gurion, para a educação cívico-histórica da primeira geração de jovens e crianças israelenses, bem como para o fortalecimento de uma “consciência judaica”, tese à qual se opõe Hannah Arendt nesses termos: “Se o primeiro-ministro Ben-Gurion, que para todas as finalidades práticas, era o chefe do Estado judeu, pretendia fortalecer esse tipo de ‘consciência judaica’, ele estava mal orientado; pois uma transformação nessa mentalidade é, de fato, um dos pré-requisitos indispensáveis para o Estado de Israel, que por definição fez dos judeus um povo entre os povos, uma nação entre as nações, um Estado entre os Estados, dependendo agora de uma pluralidade que não mais permite a antiquíssima dicotomia, infelizmente religiosa, entre judeus e gentios” (pp. 21-22). Outra circunstância do julgamento chama a atenção de Hannah Arendt, e de certa forma revela muito sobre a formação do Estado de Israel e sua postura belicosa em relação aos países árabes vizinhos e ameaçadores de sua existência (pp. 22-23):

Do Blog O contorno da sombra

Leia a continuação aqui   e   no blog do Luiz Zanin sobre   filme

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