agosto 22, 2013

A Kombi


"A Volkswagen anunciou que vai encerrar a produção do furgão Kombi. Construído em sua linha de montagem de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, o veículo era produzido no Brasil desde 1957.
A Kombi despertou lembranças de minha primeira visita ao Brasil. Cheguei da Inglaterra à Universidade de Princeton (nos Estados Unidos) em setembro de 1964, para trabalhar em meu doutorado sob a orientação do professor Stanley Stein.
Ele me encorajou a pedir uma verba de pesquisa ao programa metropolitano de treinamento de pós-graduandos, dirigido pelo professor Charles Wagley, da Universidade Columbia. A verba cobria os custos de viagem ao Brasil e uma estadia de quatro meses.
O voo de Miami ao Rio de Janeiro fez escala em Belém para reabastecimento. Fui o único passageiro a desembarcar. Era madrugada, e tive de esperar no aeroporto até de manhã, quando um funcionário apareceu para carimbar o meu passaporte.
Por fim, chegou um Caravelle francês para o restante do voo, e fui o primeiro a embarcar, como cabia ao único passageiro internacional.
Enquanto o Caravelle voava acompanhando a costa brasileira, a cada escala uma nova leva de passageiros embarcava e uma nova rodada de bebidas era servida, inclusive aos pilotos, que reparei estarem cada vez mais alegres em nosso caminho até a Bahia.
Eu não fazia ideia de onde ficaria em Salvador. Acompanhei alguns passageiros até uma Kombi para a viagem até a cidade. Decidi que iria aonde eles fossem, já que eles presumivelmente sabiam aonde estavam indo, e eu não.
Parecíamos deslizar à beira de uma praia iluminada pela lua. Grupos de palmeiras altas e barracos ocasionais eram visíveis na beira da praia, onde amantes estavam sentados, abraçados, contemplando o púrpura profundo do oceano. Talvez eu estivesse bêbado, mas foi uma chegada mágica.
A Kombi se sacudiu por uma rua de paralelepípedos até o hotel Palace, na rua Chile. Na manhã seguinte, acordei e o quarto estava escuro. Atravessei o quarto e abri a janela.
Abaixo de mim, vi uma cidade espantosa. Igrejas coloniais, praças repletas de pessoas de todas as cores e, naquele exato momento, surgindo no horizonte de uma ampla e reluzente baía, pequenas velas brancas, primeiro apenas algumas, mas depois aparentemente centenas, vindo lentamente em minha direção para o porto lá embaixo.
Mas isso é nostalgia pelo passado. Passados quase 50 anos, é triste saber que a Kombi agora também está se tornando história".

KENNETH MAXWELL

Nenhum comentário: