fevereiro 02, 2013

Minha Mãe Definha…


“Minha mãe definha, definha
e continua viva.
Seu coração forte a impulsiona
com a imprudência de um motor
uma noite após a outra.
Todos dizem Isto não pode continuar,
mas continua.
É como observar alguém se afogando.

Se ela fosse um barco, diríamos
que a lua brilha através de suas costelas
e ninguém maneja o leme,
mas não se pode dizer que esteja à deriva;
há alguém ali.
Seus olhos cegos iluminam-lhe o caminho.

Lá fora, em seu jardim abandonado,
o mato cresce de modo quase audível:
erva-moura, vara-de-ouro, cardo.
Todas as vezes que os arranco
uma nova onda começa a brotar,
subindo rumo à sua janela.
Demolem a parede de tijolos lentamente,

ocultam bordas e caminho,
borrando seus contornos.
Sua antiga ordem de palavras
desaba sobre si mesma.

Hoje, após semanas de silêncio,
ela compôs uma frase:
Acho que não.

Seguro sua mão, sussurro,
Olá, olá.
Se eu dissesse Adeus em vez disso,
se eu dissesse, Entregue-se,
o que ela faria?

Mas não posso dizê-lo.
Prometi que iria até o fim,
o que quer que isso signifique.
O que posso dizer a ela?
Estou aqui.
Estou aqui
.”

Margaret Atwood

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