“Está tarde. Preciso ir embora” é a primeira fala do personagem Andrés (Santiago Cabrera), cuja vida é um constante 'ir embora'. Morando em Berlim, onde escreve para uma revista de turismo, depois de dez anos retorna ao Chile. O objetivo de sua viagem nada tem de sentimental. Veio vender os imóveis que foram de seus pais por estar sendo difícil administra-los de longe.
Reencontra velhos amigos e depois de recusar vários convites para estar com eles como nos velhos tempos, acaba aceitando passar na festa de aniversário, na casa de um deles. Nesta casa, escura fechada e meio labiríntica é que se desenrola toda a trama.
Há quem considere este cenário tão asfixiante quanto um aquário. O que teria inspirado o título do filme. De minha parte, entendo que o Andrés não se 'asfixia'em nenhuma circunstância por ser incapaz de sentir qualquer emoção. Padecendo da falta de memória dos peixes, os acontecimentos não lhe atingem . Daí sua aparência ter-se mantida bem mais jovem do que a de seus amigos que viveram, se entregaram, amaram e sofreram. Enquanto ele, além de não haver se vinculado a nada (ele diz gostar de Berlim por nunca conhecê-la de todo), tem uma profissão que o faz está em constante deslocamento e vivendo em hotéis.
Li em algum lugar que, nesta volta, ele teria revisto sua vida e os erros cometidos. Talvez.
E digo 'talvez' porque ao reencontrar várias pessoas de seu passado, constatamos que elas sim mudaram, enquanto ele continua sendo um adolescente imaturo.
Ao rever a ex-namorada, Beatriz, agora casada e mãe de família, fica evidente o paradoxo na sua vida. Apesar de viajar bastante em função dos guias que escreve , a sua vida está parada no mesmo lugar.
As interações com outros personagens, como os filhos ou a irmã do aniversariante (todos, diga-se de passagem, viciados em game ou em droga), servem para delinear o passado do protagonista e o contrapor com seu presente.
Num diálogo aparentemente sem importância é feita menção à morte de um amigo que teria acontecido em sua presença. O tema parece ser tabu e a referência soa como uma indiscrição que constrange (suicídio?)aos demais, mas não a ele que, em seguida, vai ao quarto do rapaz (mantido inalterado) e friamente olha para as fotos, em poses reveladoras de uma afeto especial entre eles, como se não lhe dissessem respeito.
A Vida dos Peixes é apaixonante, na medida em que nos interesse desvendar a personalidade do Andres em quem vamos reconhecendo fragmentos de pessoas que, por azar, cruzaram nossa vida. Sua atmosfera é melancólica, cheia de significativos silêncios, olhares e suspiros, que muito dizem dos sentimentos, que são bem transmitidos pelos atores.
Num clima muito intimista e um roteiro bem composto, os diálogos vão contando o passado de Andres, enquanto ele parece não esboçar reações à medida que a vida e seus erros caem sobre sua cabeça.
Se ele percebe que terá de mudar, caso queira seguir em frente, fica em aberto. Aquele tipo de gente nunca muda!
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