janeiro 11, 2013

BARBARA

"Barbara" ou: o que seria do cinema alemão se não fosse a Alemanha Oriental? Ela já nos deu a comédia da derrubada do muro, depois o drama das escutas clandestinas. Agora estamos diante de uma médica, Barbara Wolff, que tenta deixar o país.
Tudo o que nos é dado ver sugere que seja uma atitude sábia. Embora esteja em uma cidade de província, trabalhando em um hospital secundário (o que já é um castigo do regime, por ter pedido visto para o exterior), Barbara é vigiada quase que em tempo integral.
O que não é, diga-se, tão terrível assim: pior é o sentimento de que todos estão, de uma forma ou de outra, vigiados.
No filme de Christian Petzold, Barbara deve, ao mesmo tempo, desenvolver uma amizade com um simpático médico local, tratar de sua fuga e proteger uma jovem que chega ao hospital vinda de uma colônia penal -e Barbara não tem meias palavras para qualificar o campo de presidiários: trata-se, para ela, de um campo de extermínio.
A favor de Petzold e seu filme diga-se, primeiro, que a descrição de certos aspectos da vida numa pequena cidade alemã oriental traz aspectos interessantes do cotidiano.
Por exemplo, a rudeza de tratamento pessoal em certos casos ou ainda um presente, alguns legumes, que vemos transformar-se numa ratatouille atraente menos por suas virtudes do que por tão pouco significar tanto, em vista da espécie de modéstia extrema -nunca penúria- em que vivem as pessoas.
Diga-se, ainda, que Petzold não trapaceia: investe na atuação seca de seus atores, sem floreios ou choramingações, muito frequentes nesse gênero de filme. Para resumir, eis aí um filme honestamente informativo sobre a Alemanha Oriental nos anos 1980.
Essa é também sua limitação: por um lado, condena seus atores a uma atuação monocórdica (Barbara em particular); por outro, pede ao espectador uma integral adesão ao seu conteúdo.
Por que devemos acreditar que a vigilância era tão cerrada na Alemanha Oriental? Bem, porque sabemos que era. O filme confirma informações que tínhamos, sem acrescentar novas.
No caso mais extremo, o dos campos: seriam mesmo colônias penais, como queriam as autoridades, ou campos de extermínio, como sustenta Barbara Wolff?
Quem quiser buscar a verdade sobre esses detalhes nada desimportantes deve procurá-la em outra parte.
Este filme bem simpático nos informará, em troca, sobre a natureza, os carros velhos, as bicicletas, a rudeza da vida na Alemanha do lado de lá do muro. É mais do que nada.

INÁCIO ARAUJO
Nota : trailer

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