janeiro 18, 2013

Amour - Haneke


"Desprezo. Covardia. Intolerância. Fobia. Sadomasoquismo. Do cineasta austríaco Michael Haneke, podia-se esperar um filme sobre qualquer uma dessas manifestações de mal-estar da civilização.
Mas, como se sabe, seu novo trabalho chama-se "Amor". E, de fato, este é um filme de amor e um filme de Michael Haneke. Parece evidente, está no título e nos créditos. Mas não é.
É um filme de amor porque trata do mais nobre e decantado dos sentimentos sem cinismo ou artificialidade.
É um filme de Haneke porque fala de amor sem edulcoração ou sentimentalismo. E porque, ao contrário do que alguns críticos estrangeiros sugeriram, não representa um desvio de rota em relação a sua obra pregressa.
Em trabalhos como "Violência Gratuita" (1997), "Caché" (2005) ou "A Fita Branca" (2009), Haneke notabilizou-se por dissecar alguns dos aspectos mais negativos da condição humana quando submetida a condições extremas.
Em "Amor", o cineasta faz o mesmo, apenas inverte o polo, falando de pessoas que reagem dignamente à adversidade. No caso, Georges
(Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva), professores de música aposentados e octogenários.
PACATO E AFETUOSO
O casal vive uma rotina pacata e afetuosa em seu apartamento em Paris até o dia em que Anne tem um problema de saúde e entra em um acelerado processo de decadência física e mental, levando Georges a dedicar-se integralmente à saúde da companheira.
Em um dado momento, Georges e Anne chegam a um impasse: ela quer morrer, ele quer que ela viva - e Haneke, então, questiona-nos se entregar-se ao desejo do outro, e sufocar o próprio, nessa situação-limite pode significar a prova de amor definitiva.
Poucas vezes o cinema de ficção fez um retrato tão duro e tão seco da velhice - aqui, não cabem eufemismos como "melhor idade". E, justamente por pintá-la com tintas tão realistas, cada ato dos personagens -um passo ou uma colherada - se torna mais excruciante e comovente.
O trabalho de Riva, a estrela de "Hiroshima, Mon Amour" (1959), foi muito -e merecidamente- elogiado, por sua transformação física para enfrentar o holocausto caseiro de Anne.
Mas o de Trintignant, de "O Conformista" (1970), não é menos notável, com sua materialização da devastação psicológica de Georges.
Com "Amor", Haneke prova que às vezes é preciso muito pouco -um apartamento e dois excelentes atores- para fazer um grande filme e chegar ao ápice de uma carreira.
Se seus trabalhos anteriores obedeciam a uma lógica perversa (quanto pior para a humanidade, melhor para o meu cinema), este conseguiu escapar dessa sina, aumentar seu grupo de admiradores (com quatro indicações ao Oscar) e deixar mais evidentes suas virtudes como cineasta. O amor caiu bem a Haneke".
RICARDO CALIL

2 comentários:

Anônimo disse...

Hoje fui ver AMOR. Como me senti mal com tanta tristeza!, apesar da "beleza do amor"(?).O filme é tão realista que só quem já acompanhou alguém pedindo para morrer sabe o que isso. Eu queria sair do cinema , mas não conseguia o que demonstra o interesse que o filme desperta. A realidade e a vida é cruel.
bjs
Lalá

Anônimo disse...

O filme é belissimo, simplesmente belissimo !!!! Emociona ! É inteligente.... O mais puro Haneke... Faz pensar ! Nos faz gostar ainda mais da vida, apesar da miséria da enfermidade...