dezembro 03, 2012

QUEM TEM MEDO DE DERRIDA? EU!

"Tremam na base: acaba de sair no mundo anglo-saxônico a primeira biografia de Jacques Derrida, o ideólogo da desconstrução. Anotem aí: Derrida, A Biography, de Benoit Peeters ...


O biógrafo ralou: papeou com mais de 100 pessoas que conviveram com o biografado, contou com uma mãozinha da viúva de Derrida e passou a pente fino um ramalhete de cartas inéditas. Ironicamente, o livro anterior de Peeters é uma biografia de Hergé, o pai do Tintin.

Derrida nasceu na Argélia, então encaçapada pelos franceses. Seus pais eram descendentes dos judeus espanhóis que se refugiaram no norte da África durante a Inquisição. Em 1870, a comunidade judaica argelina recebeu a cidadania francesa (ao contrário da população muçulmana). Jacques veio ao mundo em 1930 e durante a adolescência queria ser craque de futebol, como outro pied-noir que batia um bolão, Albert Camus.
O personagem que brota da biografia é vulnerável, sensível, dado a surtos de melancolia, neurótico, hipocondríaco e sempre à beira do suicídio. Uma alma atormentada e lírica. Mas também um obsessivo-compulsivo, maníaco pelo controle e monstruosamente arrogante. A maioria dos entrevistados evocou a aptidão de Derrida para falar sem parar durante horas a fio. Consta que era espirituoso e daria um bom stand-up comedian.
Quando os nazistas ocuparam a França, os judeus argelinos foram privados da cidadania e Derrida acabou expulso da escola. Puxou o carro para Paris.
Outra característica de Jacques: com aquele topete tipo Zé Bonitinho, foi um sedutor inveterado, da escala de um Georges Simenon (que proclamava ter comido 10 mil mulheres em 64 anos). Seu romance epistolar (The Post Card) é composto de cartas a uma amante anônima.
Aparentemente, o axioma doutrinário de Derrida era: pra quê simplificar se a gente pode complicar? O primeiro livro dele foi uma tradução de Husserl – o texto do formulador da Fenomenologia tinha 43 páginas; a introdução do tradutor, 170. 
Ah, que saudades da limpidez de um Montaigne. Aliás, o hermetismo gênero Derrida foi um dos alvos de um dos mais divertidos trambiques da história cultural do século 20".
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