dezembro 08, 2012

MARTIN E HANNAH


Martin Heidegger e Hannah Arendt conheceram-se na posição de mestre (ele com 35 anos) e aluna (ela com 18), em 1924, em Marburg. Depois do romance secreto e da paixão exaurida, a cada um restou seguir seu caminho. E foram caminhos bem diferentes, na filosofia e na vida. Arendt, judia, deixou a Alemanha, radicou-se nos EUA, onde escreveu a maior parte de sua obra. Heidegger aderiu ao nazismo o que manchou a sua biografia de forma até hoje incompreendida. Apesar dos graves desencontros na vida ou nas concepções filosóficas, que quando muito causaram períodos de interrupção na correspondência que se estendeu de 1925 a 1975, Hannah Arendt e Martin Heidegger,  viveram uma relação de amor e admiração mútuos.
Em sua biografia Hannah Arendt menciona um encontro que teve em 1975, em Freiburg, com Elfride Heidegger, a mulher legítima do filósofo que  sabia do seu  caso com o marido. 
O encontro mencionado por Hannah Arendt é que teria inspirado a escritora francesa Catherine Clément a transformar essa história em romance, mostrando o caso adúltero de Heidegger com a aluna judia, a sua participação ingênua no III Reich (aos 55 anos, carregando um fuzil, durante a II Guerra).
As velhotas que já se conheciam, entre muitos cafés e cigarros (de Hannah) conversam pacificamente,  na cozinha, sobre a vida.  
A autora insiste, sem sucesso,  em passar a ideia de que estaria se travando uma guerra entre as duas, ressentidas na disputa por Heidegger. O que se percebe é apenas um endeusamento inaceitável de ambas pelo homem.
Enquanto isto, já  muito doente, ele dorme no quarto da casa onde morreria um ano depois, e  não sonha: passeia de braços dados com mitos imortais, não fica deprimido, mas "habitado pela estranha ameaça do divino",  não é uma pessoa sedutora, é "um trem de partida tendo Hannah como passageira, com destino a lugar nenhum"...

O que se observa ao longo da leitura é que nem a presença de vultos de tal envergadura, no caso filósofos,(o livro é raso quando se refere à filosofia), nem as observações sobre os movimentos políticos que os relacionaram à I Guerra, a ascensão de Hitler, a II Guerra, a Alemanha arruinada, tramas amorosas e políticas reais, bastam para construir um romance empolgante.

Consegue-se manter o interesse pela ignorância de Heidegger quanto ao massacre dos judeus, a colaboração fundamental de Elfride, sua esposa, o padecimento de Hannah, o julgamento de Eichmann em Jerusalém (alegou ter baseado suas atitudes na moral de Kant). 
Além destes episódios, há um marcante diálogo entre Hannah e Golda Meir. As duas se declarando atéias e Golda cobrando de Hannah uma espécie de apaixonada "crença no povo judeu" ao que vai alinhando frases belicosas que a fazem lembrar dos discursos nazistas antes da guerra.
O certo é que, em nenhum momento, a obra  chega a ter o sabor de romance e  não faz jus à profundidade das figuras apresentadas.

Um comentário:

Crisão disse...

Você sempre aguçando minha curiosidade, querida Zélia...
Gostaria que refizesse nossa amizade de Facebook.

Um beijo, um abraço