novembro 21, 2012

Os Grandes Filósofos Que Fracassaram No Amor

,Os Grandes Filósofos Que Fracassaram No Amor, de Andrew Schaffer – a filosofia não ensina a ser feliz – quando muito, ensina a pensar.
Os comentários divertidos de Paulo Nogueira em seu blog Transatlântico. 


Sócrates, o marido de Xantipa:  Montaigne dizia que “filosofar é aprender a morrer”. E, se teve um cara que morreu com estilo, foi Sócrates, executado por “corromper a juventude” ateniense. Parece incrível: um dia a juventude foi corrompida por Sócrates! E não pelos mocorongos que hoje zurram por aí…. Por falar em Sócrates, ele casou quando já tinha uns 50 e lá vai pedrada. Xantipa, a felizarda, era quase 40 primaveras mais nova. E, ao contrário das atenienses típicas (vide “Mulheres de Atenas”, do Chicão), não levava desaforo pra casa. Reza a lenda que, depois do enésimo barraco entre o casal, Xantipa despejou a água suja de um balde sobre o cocuruto do marido. Sócrates filosoficamente deu de ombros: “Geralmente chove depois do trovão.”


Não sabemos quase nada sobre a vida amorosa de Platão – exceto que esticou as canelas solteirinho da silva, aos 81 anos. Algo me diz que ele não era muito chegado.
A República, como inúmeras utopias antes e hoje, apregoa um estado totalitário em botão: os casamentos são organizados pelo Estado e baseados na eugenia. Para evitar aqueles dissabores ditados pela propriedade privada, “as mulheres devem ser esposas comuns dos homens, e ninguém deve ter uma esposa só dele.” O tal do “amor platônico” não passa de uma bobajada hodierna (mais inspirada no “amor cortês” dos provençais). A opinião dos personagens dos diálogos de Platão é contraditória. No Banquete, ele pinta um quadro do amor que é tanto físico quanto espiritual.

Santo Agostinho, o santo do pau oco, um dos pioneiros da Patrística, soltou a franga na juventude, com sua exclamação epigramática: “Meu Deus, dai-me a castidade, mas não já!” Mas a mãe dele – mais tarde, Santa Mônica – rodou a baiana e o filho sossegou o facho. “As Confissões” são uma espécie de reality show literário, inspirando as Confissões de Rousseau. Agostinho legou uma das mais belas exortações do amor cristão (ágape, que já existia antes do Padre Marcelo) enquanto norma de conduta pia: “Ama, e faz o que quiseres.”

Descartes : Penso, logo desisto 
No dia 15 de outubro de 1634, René Descartes perdeu sua virgindade com uma copeira. Tinha 38 anos e a terra não deve ter tremido, pois ele nunca mais repetiu a dose. Em compensação, a moça engravidou. Como observa Shaffer, “gerar um filho na primeira e única tentativa significa que tinha extrema sorte, ou era um excelente atirador.” A partir daí, o pai da filosofia moderna levou uma vida monástica – basta dizer que seu famoso sonho dentro de um fogão (no qual ele concebeu o “cogito”), foi o mais próximo que teve de um sonho erótico.

KANT: Nem selinho dava
Kant acreditava que sexo antes do casamento era imoral – aliás, qualquer sacanagem que não fosse para fins procriativos. Daí que um amigo o tenha descrito como “mais seco do que poeira, tanto de corpo quanto de mente.” O “solitário de Konigsberg” sofria obviamente de TOC, com uma mania obsessiva de disciplina e método – os concidadãos acertavam o relógio pela voltinha que ele dava todo dia às cinco da tarde. Como se não bastasse, Kant acreditava que a masturbação era um pecado “pior do que o suicídio.”


Schopenhauer, que De Botton indicou como perito nos infortúnios amorosos, escreveu: “Um pouco de carne e um seio farto e feminino possuem um charme incomum.” Pessoalmente, devo confessar que também eu prefiro seios femininos, se não for pedir muito. Além de pessimista de carteirinha (“A existência é má hoje e todos os dias será pior, até que o pior aconteça.”), era um notório misógino: “Se o homem não for muito inteligente, isso não é problema para a mulher – poder mental ou genialidade pode até agir desfavoravelmente. Em geral vemos um homem feio, estúpido e rude passar à frente de um homem bem-nascido, talentoso e afável.” Nós, galãs e intelectuais, assinamos embaixo.


Engels e Marx: “E aí, comeu?“
Engels, quando não estava nos calcanhares do fantasma que rondava a Europa, sabia das coisas: “Se eu tivesse uma renda de cinco mil francos, não faria nada além de me divertir com mulheres até me acabar. Se não houvesse mulheres francesas, a vida não valeria a pena. Mas, enquanto houver grisettes (operárias francesas), está tudo uma beleza!” E pronto: acabava de inventar a esquerda festiva.
Como se sabe, Engels foi mais do que uma mãe para Marx. Quando este fez um filho na sua empregada (dele, Karl), Engels encenou uma manobra de diversão, dando a entender que era ele o pai da criança – só entregou o ouro em seu leito de morte.


Paul Ree, Lou Salomé e o homem do bigodeNietzsche apaixonou-se pela palatável Lou Salomé (uma maria-chuteira de escritores), quando esta tinha 21 anos. Pediu-a em casamento umas mil vezes – mas não rolou. A irmã do filósofo, que mais tarde fundará uma colônia proto-nazista no Paraguai, soltou os cachorros na moça. Um amigo comum, Paul Rée, saiu em defesa de Lou: “Não sei como ela conseguiria beijar Nietzsche, com aquele bigode no meio do caminho.” Há uma foto famosa dos três, na qual Lou brande sugestivamente um chicotinho, e o filósofo arrasta não um bonde mas uma carroça por ela (e há um filme de Lina Wertmuller, bem fraquinho.)
Nietzsche acabou a vida num hospício, aparentemente uma loucura gerada pela sífilis (o episódio foi reciclado por Thomas Mann no Doutor Fausto). Richard Wagner sugeriu que os desvarios do filósofo eram causados pela masturbação excessiva. Quando Nietzsche melhorou temporariamente, discordou:“Tomei o assunto nas mãos e voltei a ficar saudável.” Não se sabe se o duplo sentido foi intencional.
Martin Heidegger, consensualmente aclamado pelos filósofos profissionais como o maior espírito filosófico do século XX, tinha duas coisas chatas. A primeira, era o que ele escrevia: “O Ser não é o mesmo que um ser. O que determina os seres enquanto seres, e, nos termos do Ser, os seres já são compreendidos.” (Introdução à Metafísica). E outra coisa chata é que ele era nazista. Heidegger casou-se com Elfriede Petri e assim permaneceu por quase 60 anos. Mas pulou o muro à beça. Uma delas, com Hannah Arendt, que foi sua aluna: “Cara srta. Arendt! Devo vê-la esta noite e falar a seu coração.”, titilou para a então gatinha de 18 anos. Quando Hanna foi à sala dele na Universidade de Marburgo na calada da noite, trocaram fluídos alegremente.
A coisa durou 4 anos gostosos. Quando ele aderiu ao Partido Nacional-Socialista, em 1933, ela (judia) se mandou para os EUA. Em 1950, Arendt defendeu publicamente o pombinho das críticas sobre o passado nazista. Elzbieta Ettinger, autora de Hannah Arendt/Martin Heidegger pôs água na fervura (ou lenha na fogueira?): “Ninguém que saiba o que é o amor ou a paixão pode estranhar o perdão de Hannah.”
Nota: Os créditos das ilustrações estão informados no blog Transatlântico.

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