outubro 02, 2012

Matemática de novo



"Em 1957, bem lembrou Obama, houve o momento Sputnik. Era o auge da Guerra Fria, com espionagem à toda, de ambos os lados, e eis que -"surprise"!
Dias após a inauguração da 12ª sessão da Assembleia-Geral da ONU, o edifício do órgão, em Nova York, foi sede de um evento que hoje Obama (na época nem era nascido) trouxe de volta à nossa consciência como esse nome "momento Sputnik".
Ao lado da sala da assembleia havia uma outra com tapete verde onde as pessoas tomavam café e refrescos. O burburinho era geral, como é o costume em salas de café. De repente, se fez um silêncio absoluto. De boca a orelha correu a notícia: "O Sputnik subiu". O silêncio era por conta de que, antes de qualquer comentário, era preciso recorrer às chancelarias para que orientassem sobre o que era próprio falar naquela hora.
Naquela sala, aprendi o que era "poker face" de diplomata. Andrei Gromyko [1909/1989] estava a centímetros de mim. Se alguém sabia o porquê do silêncio, era ele. Estava ali para gozar o significado do silêncio. Ele era o vencedor. A URSS vencia a Guerra Fria.
Rapidamente, todos saíram da sala, foram para seus escritórios. O resto não sei por que não vi. (Eu era só uma jovem jornalista).
Aí vem a lição. Aí ocorreu aquilo que Obama aprendeu. A partir do dia seguinte, os jornais americanos inundaram suas páginas com artigos sobre educação. O lema uníssono era: "Precisamos ensinar ciências! Chega de 'liberal arts' (corresponderiam às ciências humanas)!". Os pedagogos escreviam que tínhamos que tornar o Ocidente apto a vencer a próxima etapa.
E Obama disse: "Meio século atrás, quando os soviéticos nos derrotaram na corrida espacial ao lançar o satélite Sputnik, não tínhamos ideia de como nos superaríamos para chegar à Lua antes deles. Após investirmos em mais pesquisa e educação, não só os superamos como lançamos uma onda de inovação. Este é o momento Sputnik de nossa geração".
Obama disse ainda que mandará um orçamento ao Congresso para alcançar esse objetivo. Agora, segundo ele, os americanos competem com indianos e chineses, que ensinaram matemática e ciência às crianças.
Os americanos não levaram 24 horas naquele outubro de 1957 para dar esse grito que Obama repete. Os jornais só falavam de educação.
Vivendo, sobrevivendo, aqui estou eu, revendo a típica reação americana diante de dificuldades. Queria tanto que aqui fôssemos capazes de reagir prontamente também. Precisamos alfabetizar em letras e números, ensinar a ler e a fazer contas.
Vamos lá, pessoal!"

ANNA VERONICA MAUTNER,

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