julho 20, 2012

PARIS NÃO TEM FIM

"Enrique Vila-Matas fala de literatura como pouca gente hoje. Porque conhece literatura, como pouca gente hoje. Logo,Paris não tem fim, como seu Bartleby, é mais um conjunto de reminiscências do escritor, e do seu mundo, atualmente tão distante... Pois, embora se escreva como nunca, há o mesmo tanto de pressa, e a convivência de décadas com os livros, hoje, tem de ser concentrada em alguns anos... — o que, na escrita, não resulta no mesmo efeito que um Vila-Matas provoca. Ou seja: às vezes, não adianta nem ler, como alguns ases da internet, neste momento, fazem — o importante, mesmo, é conviver. E convivência, com os grandes textos, não se improvisa. Convivência, de décadas, e juventude... não combinam. "Jovens, envelheçam!" — já dizia Nélson Rodrigues. E leiam Vila-Matas, em Paris não tem fim — até para compreender que o jovem escrevinhador, principalmente se almeja publicar em livro, só consegue ser ridículo. Tudo bem: Vila-Matas confessa que descobriu a ironia depois de velho, e que ela foi sua salvação. Ridicularizando sua juventude de escritor, eleva-se na maturidade, e produz muito mais literatura do que tentou, naqueles verdes anos, produzindo trapalhadas apenas. Misturando, como deixa sugerido, ensaio com biografia, revela-se muito mais interessante que os escritores "sérios" de hoje, mesmo os maduros, que pensam produzir literatura... Rindo, Vila-Matas afirma que as veleidades literárias, além de não se realizarem mais, acabam motivo de chacota, tempos depois".
Digestivo Cultural


Trechos colhidos:
"Paris não tem fim, e as recordações das pessoas que lá tenham vivido são próprias, distintas umas das outras. Mais cedo ou mais tarde,não importa quem sejamos, não importa como o façamos, não importa que mudanças se tenham operado em nós ou na cidade, a ela acabamos regressando. Paris vale sempre a pena e retribui tudo aquilo que você lhe dê. Mas, neste livro, quis retratar a Paris dos meus primeiros tempos, quando éramos muito pobres e muito felizes."
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“Por outro lado, creio que tenho o direito de poder enxergar-me diferente de como me vêem os demais, me enxergar como me der na veneta e que não me obriguem a ser essa pessoa que os outros decidiram que sou. Somos como os outros nos vêem, concordo. Eu, porém, resisto a aceitar tamanha injustiça.”
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“Não gosto dos relatos com histórias compreensíveis. Porque entender pode ser uma condenação. E não entender, a porta que se abre.”
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“Ninguém nos pede que vivamos a vida em rosa, porém tampouco o desespero em negro. Como diz o provérbio chinês, nenhum homem pode impedir que o pássaro escuro da tristeza voe sobre sua cabeça, mas pode sim impedir que se aninhe em sua cabeleira.”
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Pensem quais podem ser as razões básicas para o desespero. Cada um de vocês terá as suas. Proponho-lhes as minhas: a volubilidade do amor, a fragilidade de nosso corpo, a angustiante mesquinharia que domina a vida social, a trágica solidão na qual no fundo vivemos todos, os reveses da amizade, a monotonia e a insensibilidade que o costume de viver acarreta.”
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“Foi a primeira vez que percebi que o elegante podia ser algo diferente do que eu sempre havia pensado, talvez o elegante fosse viver na alegria do presente, que é uma forma de nos sentirmos imortais”
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“Até que descobri como pode ser pouco elegante passear triste, morto e desesperado pelas ruas de seu bairro de Paris. Compreendi isso neste agosto. E desde então encontro a elegância na alegria (…) Afinal, temos toda a eternidade para nos desesperar”.

Nota: Acima trechos  de  PARIS NÃO TEM FIM  e o  que disse Almir de Freitas na BRAVO!

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