julho 24, 2012

Complexo de Édipo


"Mãe, eu não quero ir à escola. Os alunos são chatos, os professores são chatos, tudo é chato". "Meu filho, você já tem 53 anos, é diretor dessa escola, você TEM QUE IR À ESCOLA!"
De fato, quando se pensa em complexo de Édipo, logo se imagina uma cena como esta, ou pior, filhos erotizados com as mães, ou filhas com os pais (que essa história de complexo de Electra foi o Jung que inventou, e Freud se irritava, pois achava que não havia porque separá-los, já que tinham o mesmo princípio), vendo o pai (ou a mãe) como rival, possessivos com seus amados.
Pois em 35 anos como psicanalista só encontrei dois homens que se recordavam de ter sentido atração sexual por suas mães em algum período de suas infâncias, e elas tinham sido ativamente sedutoras. "Ah, mas é inconsciente reprimido." Não me venham com esta porque o inconsciente reprimido deixa rastros, e é função do psicanalista deduzi-lo a partir desses traços. E não desencavei essas "memórias ocultas" em nenhum cliente.
Mais um conceito psicanalítico está na coluna sobre natureza humana porque ele consta da lista de comportamentos universais, encontráveis em qualquer tempo, em qualquer cultura do mundo.
Então, o que é o tal complexo de Édipo, e por que ele é universal? Foi um lance genial de Freud chamá-lo de Édipo, pois tudo está contido em sua história. Vamos lembrar a peça de Sófocles, que conta o mito: nasce um príncipe. Seu pai vai à astróloga da época (o Oráculo de Delfos) para saber do futuro da criança. Ela lhe prediz que, uma vez crescido, o pequeno vai matar o pai e se casar com a mãe. Horrorizado, o rei o entrega a um escravo para que ele dê um fim no bebê. Penalizado, o escravo o larga com os pés amarrados (Édipo significa "de pés inchados") num canto da mata e volta dizendo "dever cumprido".
O pequeno é achado pelo servo do rei vizinho, que, sem filhos, adota-o como príncipe (mas não conta nada). Crescido, Édipo tem a péssima ideia de consultar a mesma astróloga sobre seu futuro. O que ouve? Que vai matar o pai e se casar com a mãe. Apavorado com a possibilidade, o príncipe foge. Logo para Tebas (seu reino de origem), ó desastre. Daí para frente é só desgraça: mata o pai, casa-se com a mãe (biológicos) e quando uma peste se abate sobre Tebas, descobre a trama toda, e conclui que a culpa é dele, pobre idiota...
Você reparou que a criança foi sacaneada do começo ao fim? Que sua vida esteve sempre atrelada à dos pais? O complexo é, pois, fruto de uma invasão bárbara daqueles que teriam como função prepará-lo para ter vida própria, e não viver a dos pais.
Acontece também que temos como característica genética o apego à forma jovem, curiosa, inventiva, sempre animada em aprender, e é bom que permaneça assim pela vida afora, desde que se desenvolva autonomia.
Para isto precisamos de pais que cuidem de nossas necessidades (declinantes) e estimulem nossas capacidades (ascendentes) para que alcemos voo na vida. Mas isso é raro. Afinal, o diretor que odiava a escola nos é comicamente familiar".

FRANCISCO DAUDT

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