junho 01, 2012

Quinze anos

"Na semana passada, comentei com alguém que, por aqueles dias, iria participar de um evento da Folha sobre Paulo Francis. Um ponto de interrogação surgiu sobre a cabeça do rapaz. O nome Paulo Francis não lhe dizia nada. Perguntei sua idade. "Trinta e dois", respondeu. Bem, Francis morreu há 15 anos, em 1997, donde o jovem -nem tão jovem-estaria com 17 quando isso aconteceu. Já tinha idade para conhecer Francis pela TV. A não ser que só assistisse ao canal de desenhos animados.
Imagino a decepção de Francis se soubesse que, tão pouco depois, estaria tão esquecido. Gostava de ser popular e valorizava mais esse reconhecimento do que deixava transparecer. Certa vez, foi abordado em Nova York pela mulher de um poeta vanguardista brasileiro. Ela era sua fã; o marido, não. Perguntei-lhe sobre o que falaram. "Discutimos o preço das geladeiras em São Paulo", ele riu. Mas, no fundo, gostou.
Em 1979, quando João Bosco e Aldir Blanc compuseram "O Bêbado e o Equilibrista", tiveram de referir-se ao "irmão do Henfil" para falar de Betinho, então um importante exilado político, mas solidamente desconhecido das grandes massas. Henfil, ao contrário, era popularíssimo como cartunista. Veio a anistia, Betinho voltou para o Brasil e tornou-se, ele próprio, uma figura pública.
Em 1988, Henfil morreu. Quinze anos depois, em 2003, ao dar uma entrevista sobre qualquer assunto, mencionei-o. O repórter (de uma conhecida revista semanal) não sabia de quem se tratava. Ou seja, com apenas 15 anos de ausência, Henfil já fora esquecido. E Betinho, por sua vez, morreu em 1997 -também há 15 anos. Ainda saberão quem foi?
"De 15 em 15 anos, o brasileiro esquece o que aconteceu há 15 anos", sentenciou Ivan Lessa, aliás, amigo de Francis. Donde, se quiser sobreviver, não morra".
RUY CASTRO

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