maio 24, 2012

Piquenique do espírito

HOTÉIS PARA ESCRITORES (MUSAS NÃO INCLUÍDAS NA DIÁRIA)
"Querendo (a Geração Perdida) ou não (desde o pobre Ovídio, exilado no Mar Negro pelo imperador Augusto), os escritores sempre tiveram sebo nas canelas. Mas com estilo: em O Céu que Nos Protege, quando o casal de protagonistas (baseado em Paul e Jane Bowles) desembarca em Tanger e um abelhudo lhes pergunta se são turistas, a resposta é curta e fina: “Turistas é a sua avó – viajantes!” Para eles, confraternizar com pessoas que usam máquinas fotográficas como grampeadores (agrafadores) era igual abraçar uma moita de urtigas.

Para numerosos autores, o sedentarismo corresponde a uma espécie de doença. Baudelaire: A vida é um hospital onde cada doente tem a obsessão de mudar de cama. Este quer sofrer diante dos tubos de aquecimento, e este outro pensa que melhoraria perto da janela.” E o poeta: “Creio que estaria sempre bem onde não estou.” Mas partir para onde? “Para qualquer lugar, contanto que seja fora deste mundo.” Muito anos depois, George Steiner também preconizou a errância: “Os vegetais têm raízes. Os homens e as mulheres têm pés.”

A ideia de viagem como um piquenique do espírito brotou no século 18, com o fervor pela História e por um de seus testemunhos, a Arquitetura. A difusão da litografia (cartazes e panfletos) e o nomadismo dos Românticos, que adoravam dar um rolê, fez o resto. O hotel tornou-se o caravançarai* de inúmeros escritores. Eis alguns dos mais fosforescentes..."


Nota: * A vida é um Caravançarai: "Caravançarai é o nome dado ao local onde as caravanas que atravessam o deserto param para se alojar temporariamente. E aí se encontram pessoas de várias tribos. Encontram-se e contam-se histórias. É quando a vida se assenta em si mesma e reduz-se ao essencial..." (Affonso Romano de Sant'Anna)

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