abril 11, 2012

Os anos 1950 estão morrendo

"Elvis Presley, garotas de meia soquete, postos de gasolina com frentistas de uniforme, sexo (ou quase) no banco de trás do Mercury amarelo canário. A sedução dos anos 1950 parece nunca sair de moda.
Há três décadas, no mínimo, o imaginário do consumo, do romance e da ordem política estacionou aí. Perde-se a conta dos filmes que alimentam a nostalgia dessas cidadezinhas americanas limpíssimas, tão homogêneas quanto um milk-shake de baunilha bem batido.
No Brasil, esse tem sido um ponto forte na área das lanchonetes. Os bancos vermelhos de plástico surgem como garantia de que um ótimo cheeseburger será servido -e que o cliente sabe o que estará comendo. Não o "x-salada", que se encontra em qualquer boteco hoje em dia, mas um legítimo "burger"; nada de batatas fritas, mas verdadeiras "fries". Não milk-shakes, muito menos "vitaminas", mas perfeitos "malts".
Conheço uma lanchonete que foi ao ponto de se transformar quase num parque temático.
Filmes de Elvis Presley são projetados em TVs de tela plana, emolduradas de fórmica; "jukeboxes" tocam Nat King Cole; se o freguês não quiser se sentar nos habituais sofás de estilo americano, pode simular a experiência do drive-in, entrando na carroceria de um dos vários conversíveis da época, adaptados ao salão da lanchonete.
Apesar do exagero, gosto de lá. Mas a novidade, pelo menos no setor dos "snacks", dos "diners" e das lanchonetes "vintage", é que a moda dos "fifties" está perdendo um pouco de espaço.
Teremos de nos adaptar, agora, aos anos 1960. É o que vejo em novas lanchonetes paulistanas. No começo, a gente pensa que é a mesma coisa. Mas a diferença é promissora.
A fórmica e o plástico não deixam de estar presentes. Mas, em vez dos bancos fixos e dos sofazões vermelhos, surgem cadeirinhas mais leves, com perninhas de ferro, e encostos em tons pastel.
Pastilhas quadradinhas revestem as paredes. As luminárias, desistindo da horizontalidade fluorescente da década anterior, aparecem em pares delicados e cônicos. Certa tendência para o xadrez, para o riscadinho, substitui a volúpia das superfícies lisas e brilhantes.
A estética do seriado "Mad Men", com seus carpetes azul-claro, tubinhos verde-musgo, paredes rosa e cortinas de lavanda, vence as tonalidades quentes da década anterior.
A antiga aposta no "aerodinâmico" (carros com rabo de peixe, mesas de centro em forma de ameba, sutiãs como foguetes) é deixada de lado. O retilíneo, o leve, o justinho triunfam. Jayne Mansfield dá lugar a Jean Seberg.
Há algo de mais andrógino, com efeito, nos anos 1960 -basta dizer que os homens começaram a usar cabelo comprido, e que as calças compridas, não mais flutuantes, entraram de vez no vestuário feminino.
Deixam de existir, também, os tipos humanos clássicos da década de 1950. A dona de casa feliz na sua cozinha nova, o pai tranquilo com o barbeador elétrico, e o menino de camiseta listrada e calça rancheira foram tragados por algum aspirador gigante.
Surgem o universitário de gravata estreitinha e a adolescente que se liga em Paris. Acima de tudo, os negros começam a se tornar visíveis. Barack Obama, no fundo, tem um visual anos 1960: foi a vitória, talvez frágil, sobre a hegemonia dos "fifties" iniciada com Ronald Reagan.
Em 1955, confiança no futuro, anticomunismo e paranoia marciana andavam lado a lado. Em 1965, o futuro começava a acontecer -e a velha Europa, transitoriamente, reassumia sua liderança política e cultural, varrendo o provincianismo americano.
Dos Beatles a Godard, passando pelos mocassins italianos e pelos Karmann Ghia, o mundo se tornou mais inquieto, mais lépido, mais quebradiço. Viriam o fracasso no Vietnã e na Argélia, as explosões de 68 e, bem antes do fim da União Soviética, o estilhaçamento da hegemonia comunista sobre os rumos da esquerda.
A tal lanchonete decorada no estilo 1960 serve, naturalmente, os mesmos hambúrgueres e milk-shakes das outras. Mas um ar de boêmia paulistana antiga também é imitado ali.
A nostalgia dos anos 1950 correspondeu, sem dúvida, aos tempos recentes em que os Estados Unidos ficaram sozinhos como potência militar global. Já o declínio econômico europeu é capaz de suscitar outras nostalgias. O mundo vai pensando, talvez, em mudar de modelito".
MARCELO COELHO

Nota: da trilha sonora  anos 50


Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa! eu até tinha esquecido do Paul Anka. Ninguém mais faz citações sobre ele. Grande época. Nossos jovens não sabem o que perdem... mas certamente não entenderão o recado.
Abr
Lalá