fevereiro 28, 2012

Lisa Appignanesi

Lisa Appignanesi, nascida na Polônia, cresceu na França, morou em Montreal e Nova York e estabeleceu-se em Londres, onde vive com o segundo marido. É formada em literatura pela Universidade McGill (Canadá) e fez doutorado em literatura comparada na Inglaterra. É escritora e diretora do Freud Museum, em Londres.
Depois de escrever sobre o conflito entre o pai da psicanálise e as ideias do feminismo, questionar o aumento no diagnóstico de doenças mentais em mulheres (analisa casos de personalidades famosas como a atriz Marilyn Monroe e a poeta Sylvia Plathem Tristes, Loucas e Más, agora,  parte em defesa do amor ordinário em All about love : anatomy of an unruly emotion : "...perdemos a capacidade de tirar prazer de coisas simples da vida a dois e buscamos encontros cada vez mais intensos e incomuns".
Em um tempo em que todos os sentimentos viraram categorias médicas, o amor é a melhor linguagem para expandir a normalidade
"É importante, hoje, repensar e reequilibrar as nossas várias ideias sobre o amor.
Podemos expandir a ideia de normalidade, encontrar excitação na familiaridade. Podemos pensar no amor não só em termos de tragédia, mas também como uma comédia. Dar risada junto com a pessoa amada é uma boa maneira de renovar o relacionamento. Perdemos a capacidade de perceber os prazeres do amor ordinário.
Não quer dizer que devemos ficar com a mesma pessoa a vida toda. Hoje é fácil se separar, o que é bom. Mas isso não nos ajuda a lidar melhor com a vida amorosa.
Porque está cada vez mais difícil criar histórias de amor que deem sentido ao nosso desejo. Em nossa cultura, pelo menos, criamos muitos obstáculos para isso.
Um obstáculo é a relação complicada entre amor e sexualidade. Hoje pode não haver tanta repressão sexual, mas ainda colocamos essas duas coisas em compartimentos separados. Ficou mais fácil ter satisfação sexual (sem amor), e mais difícil ter uma relação amorosa (com ou sem sexo).
O negócio é a pessoa encontrar a forma mais rápida de satisfazer seus desejos. O sexo é uma mercadoria mais fácil de achar do que o amor.
Outro problema é a obsessão moderna pela felicidade. Ser feliz virou uma obrigação -e o amor (como o sexo, o trabalho, a cultura) só serve se nos trouxer isso. Mas, ao mesmo tempo, as pessoas não acreditam mais no "felizes para sempre". Então, trocam o eterno pelo intenso, querem algo que as deixe muito loucas, como uma droga, ou as leve a estados profundos de desespero.
Isso traz outra dificuldade, que é o ideal do amor extraordinário, fora do comum. Não temos, ou não usamos, referências do amor ordinário, que é o amor que temos na vida real, com alguns altos e baixos, mas, na maioria das vezes, com seus platôs. Não conseguimos ver nisso material para criar nossa história de amor e ficamos esperando que uma nova pessoa ou uma nova oportunidade nos traga a experiência extraordinária.
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É também real, mas é só uma parte da história de amor que construímos no decorrer da vida, digamos que são alguns picos. Mas são os que queremos repetir sempre. Porque tudo começa no primeiro amor, a grande experiência da paixão que, normalmente, termina com algum grau de tragédia. É arrebatador porque é uma ruptura com a família, amamos outras pessoas que não são os nossos pais. Isso é realmente fora do comum e nos transforma. Essa experiência acaba sendo o molde do que esperamos encontrar no "verdadeiro" amor.
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Hoje, nossas fantasias não são moldadas exatamente pelo amor romântico, inalcançável, mas pela cultura do excesso. Temos tudo, queremos mais, nunca estamos satisfeitos. As pessoas não gostam de nada moderado, parece que estão perdendo algo. E não temos paciência para os hábitos do outro. Há fases em que o relacionamento é muito irritante.
Mas a saída não é a fantasia de que vamos achar outra pessoa que satisfaça todas as nossas expectativas. Não tenho a solução, não escrevi um livro de autoajuda, mas pesquisar sobre isso nos faz lidar melhor com a necessidade de amar e ser amado.
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Fui criticada por não falar da neurociência no livro, mas a a neurociência ainda tem muito pouco a dizer sobre o amor. Também não quis medicalizar o tema, não tratei do amor patológico. Deixei isso para o próximo livro, sobre os crimes da paixão.

Nota:  Trechos da entrevista concedida à   IARA BIDERMAN . Tudo sobre o amor sairá no Brasil em 2013.

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