janeiro 27, 2012

A grande rave italiana

O Argentario é um piteuzinho de península na Toscana que compreende Porto Santo Stefano, Ortebello, Porto Ercole e Capalbio. A região é rica em termas, daquelas em que os romanos se divertiam jogando tortas de lama na cara uns dos outros e está, sem exagero, entre as duas ou três paisagens mais espetaculares que esta velha caduca, porém distinta, já experimentou na vida.

Imediatamente diante da orla do Argentario surge uma gema na forma do arquipélago do Parque Nacional Toscano, composto pelas pequenas ilhas rochosas Capraia, Giannutri, Montecristo (sim, tudo a ver com o conde), Giglio e, a maior delas, Elba, feita famosa por obra do tampinha que amava Josefina.
Já mergulhei no santuário da encosta de Giglio, Capraia e Giannutri (Montecristo é um pouco mais afastada, não vale a pena visitar em passeios de barco com a duração de um dia a partir de Porto Santo Stefano) à cata de moreias inúmeras vezes em férias de verão passadas com a família.
Bem, corrigindo, digamos que eu tenha pensado à época que estava caçando moreias enfiadas dentro de fendas nas pedras. Nunca encontrei nenhuma e, provavelmente, teria engolido o tubo de ar do snorkel de susto se tivesse dado de cara com aquela espécie de monstro pré-histórico enfezado.
Mas meu tio Roberto, que até hoje consegue despertar grande interesse tanto em crianças quanto em atrizes cinematográficas de fartas pepônias, fazia tudo parecer eletrizante. Gela-me a espinha quando lembro da expectativa de ser surpreendida pela enguia.
Mas é claro que, graças ao gesto de um grande homem, por muito tempo ninguém mais vai caçar outra coisa nas águas turquesas do Parco Nazionale dell'Arcipelago Toscano senão a honra perdida de um país já suficientemente massacrado.
Puxa, eu vinha vindo tão bem até aqui, não? Pretendia manter um certo distanciamento de achados passionais para culminar na conclusão mais óbvia possível. De que anos e anos de tentativas de dobrar as leis em favor de um ser que passa o dia preocupado com sua masculinidade só poderia dar nisto.
A farra de Berlusconi emendou na grande noitada do capitão Francesco Schettino. Uma é a continuação da outra, a grande rave que erodiu o caráter italiano. Cadê o Michel Teló para compor a trilha: "Ai, se eu te pego, ui, ui!" Cadê a extracomunitária sem permissão de residência para dançar agarradinho? "Champagne per brindare a un incontro",( aqui ) bora sacudir!
Não estava na cara que ia degringolar? Agora eu e outros mamíferos aquáticos iguais a mim não poderemos voltar a nadar naquelas águas límpidas tão cedo.
Compreendo que os dois menores livros do mundo sejam o livro de culinária inglesa e o livro de heróis italianos. Mas não sou obrigada a aguentar desculpas psicodélicas apresentadas pelos advogados dessa espécie de bicheiro da Beija-Flor de Sorrento. Prefiro as inventadas: "Não abandonei o navio, fui sequestrado por piratas"; "Não piquei a mula, estava indo buscar 'finger foods' para a equipe de resgate"; "Não fugi, fui renovar minha licença náutica"!
Já pensou se Francesco Schettino se inspira em Cesare Battisti e resolve pedir asilo político no Brasil? E, como homem de uniforme sempre faz sucesso -nem que seja para trazer uma empada sobre uma bandeja-, já antevejo minhas amigas que estão a perigo em fila na porta da cabine. Ai, se eu te pego, ai...

BARBARA GANCIA

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