dezembro 01, 2011

Acaso

"Tememos o acaso. Ele irrompe de forma inesperada e imprevisível em nossas vidas, expondo nossa impotência contra forças desconhecidas que anulam tudo aquilo que trabalhosamente penamos para organizar e construir. Seu caráter aleatório e gratuito rompe com as leis de causa e efeito com as quais procuramos lidar com a realidade, deixando-nos desarmados e atônitos frente a emergência de algo que está além de nossa compreensão, que evidencia uma desordem contra o qual não temos recursos. O acaso deixa à mostra a assustadora falta de sentido que jaz no fundo das coisas e que tentamos camuflar, revestindo-a com nossas certezas e objetivos, com nossa apreensão lógica do mundo.
Procuramos estratégias para lidar com essa dimensão da realidade que nos inquieta e desestabiliza. Alguns, sem negar sua existência, planejam suas vidas, torcendo para que ela não interfira de forma excessiva em seus projetos. Outros, mais infantis e supersticiosos, tentam esconjurá-la usando fórmulas mágicas. Os mais religiosos simplesmente não acreditam no acaso, pois creem que tudo o que acontece em suas vidas decorre diretamente da vontade de um deus. Aquilo que alguns considerariam como a manifestação do acaso, para eles são provações que esse deus lhes envia para testar-lhes a fé e obediência.
São defesas necessárias para continuarmos a viver. Se a ideia de que estamos à mercê de acontecimentos incontroláveis que podem transformar nossas vidas de modo radical e irreversível estivesse permanentemente presente em nossas mentes, o terror nos paralisaria e nada mais faríamos a não ser pensar na iminência das desgraças possíveis. E nem é necessário imaginar grandes catástrofes, embora elas possam sempre ocorrer. Basta lembrar que nossa própria morte, ou a de um ente querido, pode ocorrer a qualquer instante, sem que nada possamos fazer para impedi-lo.
Entretanto, tem um tipo de homem que age de forma diversa. Ao invés de tentar fugir do acaso, como faz a maioria de nós, ele o convoca constantemente. ...."
continua

SÉRGIO TELLES

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