"Você está entre os quase 7 milhões de criaturas que moram sozinhas em alguma grande cidade do Brasil?
Na frieza do recente relatório do IBGE –mais frio que a solidão do chicabon do tio Nelson-, a coisa pode ficar menos dolorosa: somos apenas habitantes de unidades domésticas unipessoais, UDU´s.
Chique no último, não?
“E, aí, na minha ou na sua unidade doméstica unipessoal?”, perguntaria o conquistador politicamente correto.
Somos quase 7 milhões de solitários.
O contingente subiu, nos últimos dez anos, 8,6% para 12,1%.
Reparo nas estatísticas e me sobe logo ao nariz o cheiro do miojo do desprezo.
Mas isso não significa, amigo(a), obrigatoriamente o que sugerem os números.
Significa também independência. Principalmente daquele povo que vive, qual um Dr. Smith no velho seriado futurista, reivindicando o seu “espaço”.
Diz muito também da solidão da velhice. O ex país do futuro está virando uma pátria de bengalas.
Diz muita coisa. Conheço centenas de pessoas que não trocariam as suas confortáveis UDU´s por acasalamento algum.
Tem todo um luxo e é sonho de muita gente morar solitariamente.
Tem tudo isso, é bom, é ruim, como tudo na vida.
É bom ter sua liberdade, inclusive para curtir as mais inerciais das ressacas. É, meu velho, depois dos 40 a ressaca não é mais apenas uma consequência natural da farra. Depois dos 40 a ressaca é uma dengue existencialista.
É ruim naquele momento de coçar as costas, como testemunhei, da minha janela indiscreta, uma linda afilhada de Balzac em apuros aqui nas cercanias da Paulista.
Quando li a glacial estatística, um poema esquentou no cocoruto, aquele do Drummond, que diz assim:
“Nesta cidade do Rio, /de dois milhões de habitantes/, estou sozinho no quarto, /estou sozinho na América.”
Era um Rio ainda dos anos 1940. Quase não havia ninguém nas unidades domésticas unipessoais. Era muito mais assombroso.
Agora o Rio tem uns 15% dos seus moradores na solidão do próprio eco. Incluindo, óbvio, o luxuoso e leblonístico sr. João Gilberto,
O Rio só perde para Porto Alegre, com mais de 20% de tri-solitários.
Aqui, na solidão paulistana me despeço. E você, meu rapaz, e você ai amiga independente, o que há de bom e o que há de ruim em morar sozinho?"
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