outubro 27, 2011

História das coisas

"Bill Bryson resolveu escrever esse livro ao ver como sabia pouco ou nada sobre o mundo incrível e ao mesmo tempo cotidiano que o envolvia em sua casa. Por que temos um saleiro? Por que gostamos mais de pimenta do que de cardamomo? O livro chama-se "Em Casa -uma Breve História da Vida Doméstica", de Bill Bryson, Companhia das Letras.
É bom para fazer pensar na evolução de cada cômodo, originários de um só espaço, onde todos dormiam, comiam, trabalhavam e se divertiam, e com certeza brigavam por aquele pedacinho de chão que ficava ensolarado até mais tarde.
Pensei que iria se concentrar nos objetos, nos utensílios, mas não. Fala muito mais do aparecimento das tecnologias que propiciaram a evolução dos cômodos e da sua capacidade para gerar conforto.
Podemos começar da cozinha e dos elementos que fizeram dela o que é hoje. É preciso ficar pensando de olho parado para conseguir imaginar como era a casa antes que nos acostumássemos com tudo.
Para começar, o gelo. Conservar a comida, gelar a bebida, fazer sorvete, transportar produtos de um lugar a outro, carne fresca, peixe fresco. O crescimento incrível da produção de alimentos, ah, o gelo, esse civilizador!
Uma casa do seu condado em 1851. A cozinha não tinha pia, pois era cozinha, para cozinhar, não para lavar... Conforme o tamanho da casa, muitas copas e despensas, pois os materiais de limpeza eram fabricados "in loco", goma para colarinhos, graxa, sabonetes, veneno para ratos, velas.
E como os ricos comiam bem! Havia excesso de comida, de lagostas, ostras, esturjões, aves, caças, muito cozinheiro e ajudante, e pouco conforto para eles. E apareceu a sala de jantar. E os horários. O garfo surge com dois dentes, chega a seis e volta para quatro. Cento e quarenta e seis tipos de talheres, sei lá quantos copos, e inevitavelmente os manuais de como se comportar à mesa, que deveria ser uma espécie de pós-graduação, tantas regras era preciso saber.
O modo de se produzir o vidro, o tijolo, o aço, o cimento, a possibilidade de sustentação de mais um andar. E o banheiro? Podemos imaginar a extensão do conforto vindo de um banheiro?
Essa ideia foi a melhor de todas, fico de cara vermelha só de pensar na dificuldade que seria para Virginia Woolf, por exemplo, escrevendo aqueles livros de uma delicadeza absurda e tendo que parar para ir num pequeno fosso fora de casa, na beira do rio. Credo, de baixar o chiquê de qualquer um...Um exercício de humildade e realidade.

E saiu também um livro de memórias de família de Edmund de Waal. "A Lebre com Olhos de Âmbar", editora Intrínseca, que, com a desculpa de descobrir o caminho de uma coleção de netsukes japoneses, vai atrás das casas, mobílias e quadros e objetos de arte de sua riquíssima família judaica na Europa. França, Viena... E história. O caso Dreyfus. Seu tio foi usado por Proust para delinear o personagem Swann, só esse passeio pelo mundo de "A la Recherche..." já seria interessante. A descrição das casas, dos quartos, das coleções compradas, da moda de "japonaiseries". Para quem gosta de "coisas", vale a pena.
NINA HORTA

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