"...Tenho minhas dúvidas. Estou com meus cinquenta e tantos anos hoje, e as coisas mudam quando a gente fica mais velho. O tempo voa e a aritmética mais básica mostra que os anos que ficaram para trás são em número maior do que aqueles que se tem pela frente - muito maior. O corpo começa a dar sinais de decadência, doendo e reclamando onde antes não havia nada de errado, e aos poucos as pessoas que a gente ama começam a morrer. Na altura dos cinquenta anos, a maioria de nós vive assombrada por fantasmas. Eles vivem dentro de nós, e nossas conversas com os mortos tomam quase tanto tempo quanto a conversa com os vivos. É difícil para um jovem entender isto. Não que uma pessoa de vinte anos de idade não saiba que vai morrer, mas é a perda de outras pessoas que afeta tão profundamente os mais velhos - e não se pode saber o que aquele acúmulo de perdas fará com a gente até que se tenha essa experiência. A vida é tão curta , tão frágil, tão fugaz. No fim das contas, quantas pessoas amamos de verdade no curso de uma vida? Apenas algumas poucas, muito poucas. Quando a maioria delas vai embora , muda o mapa do nosso mundo interior. Conforme me disse meu amigo George Oppen, certa vez, sobre envelhecer: que coisa mais estranha de acontecer a um garotinho."
Paul Auster ( em entrevista na Paris Review - pág. 410)
Nenhum comentário:
Postar um comentário