julho 02, 2011

INTENSO

Se eu tivesse que definir em uma palavra o escritor Ernest Hemingway diria que ele era intenso. Intenso demais . Quero sempre pensar que ele não cabia mais em si mesmo quando, aos 61 anos, se suicidou com um tiro de espingarda na boca. 
Como homem e também como escritor, (afirmam os que conhecem toda sua obra literária)  foi terrivelmente ambivalente e dividido. Não se trata da ambivalente relação que manteve com Fitzgerald - que foi um dos seus primeiros defensores, mas por quem ele dizia não ter qualquer respeito - havia nele uma permanente mistura de sentimentos e pontos de vista contraditórios ( e muitas vezes escatológicos) em relação as figuras literárias como Zelda Fitzgerald, Gertrude Stein, Wilson Edmund, Geismer Maxwell, James Joyce, Ezra Pound que eram seus amigos.
Hemingway  podia ser, na mesma medida  e intensidade,  sensível, corajoso, generoso e extremamente   grosseiro, hostil e fanfarrão . Não importa o termo psiquiátrico para este tipo mais ou menos comum de duplicidade, o certo é que esta divisão parece ter sido a fonte do melhor e do pior em sua ficção. Seus melhores trabalhos são os que refletem sua luta contra suas próprias fraquezas: vaidade, pânico, insegurança.
Quando jovem, além de criativo, sabia ser generoso, vindo a tornar-se décadas mais tarde, uma criatura dotada de uma vaidade sem tamanho, sensível demais a qualquer palavra casual de crítica. A personalidade gigantesca deste herói de guerra e turbulento homem de ação, toureiro, pescador de águas profundas, grande caçador branco, rápido no gatilho se sustentava em tênues defesas psíquicas. Acumulava rancores e bastava a crítica de um livro para provocar nele uma extrema raiva ou  profunda depressão. 
Os momentos em que se rendia ao seu lado macho também foram marcantes. O  mito do macho, até hoje perpetuado, foi mostrado com muita graça pelo Woody Allen, no recente filme "Meia-Noite em Paris". 
Leio a notícia de que o projeto "Hemingway Letters" , iniciado há quase nove anos, envolvendo acadêmicos de diversos países e que já reuniu 6.000 cartas, publicará a sua correspondência para marcar os 50 anos de sua morte, completados hoje. 
Em 15 de junho de 1961, Ernest escreveu  a que seria sua última carta,  para o filho do  seu médico, um garoto de 9 anos que estava internado no mesmo hospital que ele. Na carta diz sentir muito por saber que o menino estava ali e deseja melhoras. Descreve a bela paisagem do lugar, com peixes saltando dos rios - mas ressalta que não havia tantos quanto em sua Idaho natal. Comenta que em breve os dois estarão juntos em Idaho fazendo piadas sobre sua experiência hospitalar. Duas semanas depois, se suicidou .
Da autoria de Marcos Fernandes  leia  sua  autópsia psicológica .

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