julho 06, 2011

Finas maneiras para gente grossa (I)

"(Ou a Arte da boa conversa)
Ainda comovido e abestalhado com a leitura de “Chá das Cinco com Aristóteles” (Lacerda Editora, Rio, 1999, disponível apenas nos bons sebos do ramo), este cronista tenta decifrar a arte da boa conversa -como a do nosso amigo ai da foto com o Drummond-, a prosa aparentemente à toa, o nobre exercício de se jogar conversa fora.
Sem cerimônia, na maior cara de pau, fizemos uma livre adaptação das dicas de Aristóteles para os tempos atuais, levando em conta a realidade mais relax e o social samba clube dos tristes trópicos.
Como a arte da boa conversa está cada vez mais em baixa, prometemos, a partir desse arrazoado, um madureza ginasial completo sobre o tema. Você também pode, e deve, contribuir, amigo, deixando ai sua dica.
É triste a ausência de prosa ou a falta de traquejo de muitos por ai.
 Somente às grandes mulheres é permitido uma prosódia marcada por elipses preguiçosas (intervalos para cafunés) ou até mesmo o sábio silêncio, quando metidas em náusea ou tédio bem particulares.
“A este falta café”. Assim os espanhóis do tempo de Mariano José de Larra (o maior articulista de costumbres de Espanha, séc. XIX) reclamavam dos ruins de papo, atribuindo a culpa à ausência do hábito de frequentar rodas de bares e cafés de Madri.
É realmente no vinho, na cerveja ou na aguardente entre os amigos (ou adversários cordiais), que adquirimos tal arte. Ao nosso breve manual, pois:

1) Um ligeiro gaguejar pode até oferecer um entusiasmo peculiar à conversa, ampliando o suspense nas suas boas palavras.

2) Evite dizer, é deveras irritante, o tempo todo apenas a expressão: “Exatamente!, exatamente!!”

3) Nunca diga “não tenho nada contra isso, mas...” Adversativa imperdoável.

4) Nunca diga “no meu tempo...”

5) Nunca termine uma sentença com um inescrupuloso “você não acha?”

6) Evite o samba-exaltação na linha “encantador, encantador!”. Murmúrio de pseudo-artista.

7) Nunca seja escrupolosamente sincero ao ponto de questionar cada fato e corrigir qualquer impropriedade.

8) O mentiroso de qualquer espécie sabe que a recreação, e não a instrução, é a alma da conversa e acaba sendo muito mais civilizado do que o cabeça-dura que fica alardeando sua desconfiança em relação a uma história que é contada apenas para entreter a plateia.

9) Evite as citações ad infinitum. Prefira o naturalismo-realista e conte histórias ou situações do seu próprio cunhado safado, da sobrinha tentadora, da vizinha do 204 etc.

10) Não conte filmes.

11) Muito menos sonhos. Interpretá-los em público, nem pensar, meu caro.

12) Não demonstre o seu cabacismo tecnológico, de modo a exaltar qualquer nova geringonça ou novidadismo do gênero, como os benefícios do Twitter, por exemplo, no seu trabalho.

13) Prefira a superfície bem fundamentada ao obscurantismo das teses ditas profundas -nota de rodapé em mesa de botequim é um desperdício.

14) Em caso de desconhecidos na mesa, não faça a maldita pergunta "o que você faz" logo nos primeiros goles.

15) Nunca se exalte demais diante de uma mulher bonita e gostosa ao ponto de querer discutir Machado de Assis, Osman Lins, Murilo Rubião, Faulkner ou Hemingway com ela nos primeiros cinco minutos de conversa. Mesmo que agora em um bar de Paraty, durante a Flip.

Deixe você também as suas dicas para este blogueiro de boas maneiras!"

Xico Sa em se blog. 

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