junho 20, 2011

O Sono da Razão Desperta Monstros

"LUZ E RAZÃO : A sede de Goya
A produção artística de Goya foi fortemente marcada  por três peculiaridades que fizeram parte da vida desse pintor do século XIX: os ideais iluministas; a guerra; o corpo.
Permeando a vida pessoal e profissional esses três fatores geraram grandes contradições no olhar ao trabalho do pintor espanhol.
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O SONHO DA RAZÃO PRODUZ MONSTROS (1799) é a gravura de grande destaque que compõe a série dos Caprichos. Nela o artista se apresenta sentado, dormindo sobre suas anotações, apóia sua cabeça e braços numa espécie de mesa, quadril e pernas estão direcionados para o observador. Seu tronco contorcido em busca de apoio transmite uma posição incomoda e frágil, temos a sensação do não confortável, da transição entre o estado de alerta e o sono, um sono que não poderia ser evitado. Atrás do artista surgem morcegos, 
alguns pássaros que até se assemelham as corujas e outras criaturas que não sabemos identificar com precisão. Um lince de olhos grandes que nos assusta, de postura imponente e patas cruzadas como os braços cruzados do artista, olha em direção a Goya como se velasse seu sono. Apesar da cena monocromática, percebemos a importância da idéia de luminosidade. As tonalidades claras  que se apresenta na mesa e sobre Goya parece direcionar o olhar primeiramente para esse artista adormecido e a inscrição que compõe a parte frontal da mesa. Parte dessa espécie de iluminação contamina as primeiras criaturas que chegam até o artista, deixando-as quase nítidas. O tom mais escuro e acinzentado que se figura mais ao fundo produz uma certa
confusão, vemos sombras e criaturas que voam em uma penumbra que nos omite a identificação desses seres, o desconhecido dá lugar ao fantasioso e ao desumano.
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Goya deixou dois estudos para O sonho da razão produz monstros. Neles podemos perceber o caminho que Goya percorreu para chegar a versão final deste Capricho. Alguns detalhes se repetem nas duas versões.: a posição de Goya sentado, adormecido, apoiado sobre a mesa; a presença do lince e os seres que voam. 
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 A versão publicada em 1799 não traz essa  luminosidade dos dois estudos, o artista se coloca fragilizado no mundo onírico, onde muito provavelmente o racional não consegue seu lugar.
Quando dormimos estamos expostos ao não racional, ao fantasioso, aos seres e criaturas da superstição, das
crenças populares. “A falha da vigília determina a invasão do irracional” (COLI,  Jorge, A   crise da razão )."
 

Aline Ferreira Gomes e Luiz Fernando Petty

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