maio 18, 2011

Toca o barco

"Até o meio-dia de sábado, as negociações para mitigar a crise econômica da Europa estavam bem encaminhadas, com Portugal, Irlanda e Grécia na expectativa de o FMI liberar bilhões de euros para apagar seus incêndios imediatos. Ao mesmo tempo, a sucessão presidencial na França (eleições marcadas para 2012) se encaminhava para uma troca de estilo de governo, e para melhor, esperavam os franceses.
De repente, tudo empacou porque o super-homem que protagonizava tais movimentos, fiando-se em seus poderes, gostou de uma camareira e a atacou grosseiramente em seu apartamento de hotel em Nova York. A camareira deu queixa. O homem foi arrancado da primeira classe do avião em que embarcava para Paris, identificado por ela numa fila de suspeitos, desfilado de algemas para os fotógrafos e viu negada uma fiança milionária. Em horas, seu mundo caiu.
A desgraça de Dominique Strauss-Kahn, 62 anos e, então, o nº 1 do FMI, não é a primeira do gênero. Mas, sempre que acontece, eu me pergunto que pulsões secretas de um indivíduo não interferem no destino de milhões que não têm nada com elas. Ou o Strauss-Kahn sóbrio e competente, em quem um sistema inteiro apostava para voltar à prosperidade, seria um, e o trêfego Dominique, que não podia ver um rabo de saia, outro?
Não creio. Nelson Rodrigues dizia que, se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém. Nossa sensibilidade ou hipocrisia pode rejeitar esse conceito, mas ele é difícil de derrubar.
O FMI soltou o dinheiro para Portugal, seu nº 2 deve tornar-se o novo nº 1, as negociações para salvar a Europa continuam e a França se virará como sempre. Em breve, DSK será apenas um nome nos arquivos dos jornais, só lembrado quando alguém escorregar feio de novo como ele. Toca o barco"

RUY CASTRO

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