maio 02, 2011

Música romântica

Não era aniversário, nem data redonda. Apenas a vontade de homenagear um músico que tantos amam e admiram. Foi o que fez, na semana passada, um radialista de passagem pelo Rio. Convidou amigos a ir a um piano-bar carioca para abraçar e beijar este músico e, quem sabe, cantar para ele. Aproveitou e gravou o evento (de quase três horas) para transmiti-lo em seu programa de rádio.
O artista era o cantor e compositor Tito Madi, 82 anos em julho próximo e se recuperando de um AVC que afetou seu canto e violão. O radialista, o portenho Jose Luis Ajzenmesser, que, em seu programa de rádio em Buenos Aires, faz mais pela música brasileira que a maioria de seus colegas daqui -toca nossos discos, entrevista nossos artistas, mergulha em nosso passado. No Brasil, só os músicos o conhecem e lhe são gratos.
A geração de Tito Madi, nascida c. 1930, foi abençoada. Produziu Lucio Alves, Tom Jobim, Luiz Bonfá, Dolores Duran, Maysa, Johnny Alf, Nora Ney, Doris Monteiro, Luiz Reis, Agostinho dos Santos, Ismael Neto, Sylvia Telles, o próprio João Gilberto. Todos se formaram na escola rigorosa do samba-canção e atuaram na transição deste para a bossa nova. Dos citados, só Tito, Doris e João Gilberto estão vivos.
Em certo momento, a música que eles faziam foi depreciativamente rotulada de "fossa". Mas, quando predominava nas boates dos anos 40 e 50, ela era somente grande música romântica, com um repertório à altura de seu equivalente nos EUA e na Europa. Tito contribuiu para esse repertório com gemas como "Chove Lá Fora", "Cansei de Ilusões", "Carinho e Amor", "Não Diga Não", "Canção dos Olhos Tristes" e muitas mais. Um dia, quis compor uma bossa nova. Compôs "Balanço Zona Sul".
O Brasil deveria homenagear Tito Madi todos os dias, tocando seus discos. Mas, se não tocam aqui, tocam numa rádio da Argentina."


RUY CASTRO

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