maio 11, 2011

Fazer nada

Ah, o doce fazer nada. Aquela sensação de vazio na agenda – nada marcado para no mínimo um mês. Nenhum compromisso, nenhuma obrigação. Ir para a cama à noite e o último pensamento antes de dormir ser: o que é mesmo que eu preciso fazer amanhã, quando acordar? Nada! Amanhã é dia de quê? De nada! Será que eu não estou esquecendo alguma coisa? Está nada! Você não precisa nem sair da cama, se não quiser. Pode se levantar para ir ao banheiro, certo, mas depois pode voltar para a cama.
Lembra quando você era criança e acordava cedo, se arrastava até o banheiro e só no meio do xixi se dava conta de que era domingo e não tinha aula? E voltava para a cama ainda quentinha? Numa escala dos maiores prazeres da existência, este está em terceiro lugar, logo abaixo de passe de calcanhar que dá certo e primeiro beijo de língua.
Agora, é preciso qualificar o ócio. Há ócios e ócios. Muitos não sabem como não fazer nada. Confundem não fazer nada com introspecção. Dedicam o fazer nada a mergulhos interiores, que só levam à angústia existencial, ou a filosofar, que só leva a ideias estranhas. Alguns dos piores desastres da história se devem a projetos para salvar a humanidade desenvolvidos durante o tempo ocioso na cama.
Também deve ser evitado o chamado ócio virtuoso, que é quando a pessoa, se sentindo culpada por não fazer nada, se impõe tarefas como organizar seus CDs em ordem alfabética ou finalmente consertar a porta do forno. Outra má ideia: o ócio criativo (“Vou escrever meu romance” ou “Vou aprender xadrez”). Esqueça. Você não estará fazendo nada. Só estará fazendo outra coisa.


Luis Fernando Veríssimo

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