março 12, 2011

Mais de bichos...

"Cegonhas e gatos. Duas histórias. 
A primeira se passa numa fazenda ao norte da Lituânia, onde cresceu meu bisavô, dois séculos atrás. Ali vivia um bando de cegonhas, com suas famílias, filhotes -e casais fixos e fiéis, como é típico na espécie.
Uma cegonha-esposa, no entanto, acabou se encantando por um jovem cegonha e manteve com ele um rápido romance. Claro que houve uma briga enorme entre este e o marido traído, para quem ela acabou voltando.
Às vésperas do inverno, quando as aves preparavam-se para imigrar em direção a terras mais quentes, reparou-se que o cegonha-amante foi deixado de lado, rejeitado por todos os outros.
De fato, quando eles voaram, restou sozinho na fazenda e foi recolhido para dentro de casa para escapar do frio. Passou ali os meses gelados, sempre ao lado da lareira.
Às vésperas da primavera -ou seja, da volta das cegonhas para casa-, notaram que ele ficou inquieto, parou de comer. E numa manhã, poucos dias antes da chegada dos colegas, atirou-se ao fogo e morreu.
A segunda ocorreu bem aqui, há cerca de dois anos, quando meu cão Neno adoeceu gravemente. Como tinha mais de 20 anos, não havia muito a fazer.
Leonid, o gato que ele criara como pai e mãe, estava nessa época no auge de sua vida hormonal: saía todas as noites e só voltava de manhã. Quem tem gato macho não-castrado conhece o modelo.
Pois não é que ao constatar que o "pai" estava bem doente, e nem aceitara o camundongo apetitoso que lhe trouxera de presente, o gato desistiu temporariamente das namoradas? Noite após noite, ficou deitado ao lado de Neno no sofá da sala. Quieto e contemplativo, em posição de esfinge, acompanhou a agonia do amigo.
Quando o cachorro morreu, na mesma noite Leonid voltou à vida pregressa, não guardou luto, não ritualizou. Para ele, como para os outros animais, a morte é natural como um legume orgânico.
Tudo isso para registrar meu espanto quando a revista "Superinteressante" deste mês aparece com uma matéria de capa na qual afirma que os cientistas acabaram de descobrir que os animais pensam e sentem. E que isso é superinteressante. Soa mais ou menos como a descoberta da roda em 2011".


VIVIEN LANDO

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