fevereiro 03, 2011

Protetores dos animais

"ÓTIMA OPORTUNIDADE para continuar respondendo às perguntas que me fizeram na Casa do Saber. "Sustentabilidade." Todo mundo sabe o peso da emoção que cerca essa palavra. Comecei por dizer que já não aguento mais o palavrão. Nem vindo de catastrofistas, nem das crianças de escola, nem de ninguém. Só de quem entende muito da coisa e vejo que os próprios cientistas estão bem confusos.
Quando, no bufê, por lei, fomos obrigados a trocar bancadas e tábuas de picar por plástico e alumínio, fui atrás. Estudei, li e cheguei a uma trilha que assegurava que o uso de madeira nesses casos é muito mais saudável do que o uso de plástico. Mas as provas estavam dentro de revistas de medicina, de opiniões no jargão científico, muita equação química que não compreendia, nomes de árvores que por aqui não vicejam. Desisti. Hoje, quase convencida das propriedades da madeira, tenho tudo de alumínio.
Sei da importância do assunto. Só quero menos. Menos pautas, menos livros, menos simpósios, menos blá-blá-blá, menos matérias em revistas, menos sacolas horrendas. Não ousem me aterrorizar com o fim do mundo senão empedro. Só quero menos com mais base.
E ontem recebi e-mail de leitora me acusando de muito má por não querer as galinhas e tartarugas dentro de casa. Não me fiz entender. Estava simplesmente separando nossos espaços. Mas escrevi uma palavra que (desconfio) alguns protetores de animais odeiam. "Canja!" O e-mail, editado, é este:
"(...) Estou perplexa. Como alguém de tanta insensibilidade pode ter um espacinho como o teu numa coluna de jornal. O que precisamos hoje em dia são de pessoas de coração, de sensibilidade e não de pessoas frias que só usam a natureza para o que convém.
Fui criada em meio a coelhos, cães, gatos, galinhas, tartarugas, sempre respeitando o espaço deles, como minha boa mãe me ensinou (...).
Orgulho-me de criar minhas filhas de forma sensível, com respeito e amor por tudo que é vivo, com cães e gatos nas camas e sofás, tartaruga que some o ano todo, mas que aparece para se aninhar conosco quando convém. E, claro, sempre é recebida com muita saudade e alegria por vermos que ainda está viva. Aliás, desde a minha infância... É mais do que parte da família.
Água para beija-flor eu tenho sempre em meu jardim. É uma forma de me desculpar com a natureza pelas barbaridades do bicho homem espertão! Potinhos de água para os animais de rua (...), tenho sempre em meu portão! E isso me acalma o coração (...). Sem mais, Thaís."
A tartaruga é mais do que parte da família, Thaís? Tudo bem. Cada um, cada um.
Ah, já ia esquecendo de dizer, nem dá vontade de repetir de tanto mau gosto. A atriz Cissa Guimarães enterrou as cinza de seu filho Raphael debaixo de uma palmeira. E foi rudemente admoestada por alguma autoridade pelo perigo de fazer mal à planta. Teve que se defender, provar que havia tomado todas as providências para que nada disso acontecesse antes de levar a cabo a sua ideia. Achei tão bonita a foto dela abraçada à árvore, sentindo a presença do filho na sua seiva.
Tenham paciência, bobeira também tem limite."


NINA HORTA
Nota: se não fizer sentido, volte um pouco e leia a crônica anterior "Bicho de Férias"

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