outubro 07, 2010

Sabres e Utopias

‘Sabres e utopias’ é o mais recente livro do escritor Mario Vargas Llosa, cujo lançamento (aqui) coincide com a sua premiação com o Nobel de Literatura. Trata-se de uma reunião de artigos sobre política, direitos humanos, história e literatura, incluindo resenhas de diversos romances de García Márquez, textos sobre Jorge Amado e Euclides da Cunha – inspirador do seu romance ‘A guerra do fim do mundo’.
Acesso ao primeiro capítulo linkando no título. Li alhures que os mais interessantes são os que tratam da política da América Latina, com destaque para ‘O socialismo do século XXI’ a propósito da política externa do atual governo.

Trecho da entrevista de Mario Vargas Llosa (programa "Cara a Cara" 1989 - BAND)


Cartas A Um Jovem Escritor (Mario Vargas Llosa)
"Nesse livro, Llosa mostra que não basta dedos mágicos e nem uma intuição suprema que, de repente, ilumina todo o percurso da escrita. Nada disso. Para criar "a vida que não foi", como Llosa define a ficção, há um longo e tortuoso caminho. Um dos primeiros passos é remontar àquilo que se viveu - a fonte que irriga toda a ficção. "Isso não significa, é claro, que um romance seja sempre uma biografia dissimulada do seu autor, mas, sim, que em toda a ficção (...) é possível rastrear um ponto de partida, uma semente íntima, visceralmente ligada à soma de vivências de quem a forjou". Alguma coisa semelhante ao que Ernesto Sabato diz quando afirma que, até mesmo os expatriados, como Ibsen ou Joyce, viveram tecendo e destecendo a trama das próprias existências, revivendo os dramas reais de seus rincões.Para explicar, com humor, esta teoria, Llosa usa a matáfora do misterioso catoblepas - animal mítico que se alimenta de si mesmo. Um exemplo de escritor-catoblepas? Proust, moroso construtor de "Em Busca do Tempo Perdido", que escavou a própria memória para escrever sua obra monumental. Curioso é como Llosa mostra a simultaneidade dos dois processos: ao mesmo tempo em que os autores se influenciam uns aos outros, mesmo que inconsciente, eles também, como um escorpião encalacrado, mordem o próprio rabo.O melhor de "Cartas a um Jovem Escritor" é quando Llosa abandona o tom professoral de algumas passagens, que fazem o livro parecer um manual, e retoma a voz do ensaísta, tão bem afinada em "A Verdade das Mentiras". Lá, o autor de "Paraíso na Outra Esquina" esmiúça o trabalho de alguns dos maiores romancistas do século XX em textos de fôlego que mostram a erudição do autor sem o compromisso didático que acompanha estas cartas.Contudo, é ótimo rever Llosa falando de autores eternos. Em última análise, uma bela lição de crítica. Sem nenhum compromisso com academicismo, apenas com os olhos de um leitor arguto que conhece como poucos a matéria que manipula. Como quando escreve acerca de García Márquez, por exemplo: "Calor, sabor, música, todas as texturas da percepção e dos apetites do corpo se expressam naturalmente e sem pudicícia, e com a mesma liberdade nele respira a fantasia, lançando-se em contenção no terreno do extraordinário. Quando lemos ?Cem Anos de Solidão? ou ?O Amor nos Tempos do Cólera? somos dominados pela certeza de que apenas nessas palavras, com essa índole e ritmo, tais histórias seriam críveis, verossímeis, fascinantes, comovedoras; de que apartadas dessas palavras elas não conseguiram nos encantar como encantam, pois nessas histórias são as palavras que as contam".

Um comentário:

Anônimo disse...

Esre é O escritor!