outubro 30, 2010

Os jornais

"O jornal em vez de ser um sacerdócio, tornou-se um meio para os partidos, e de um meio passou a ser um negócio. Não tem fé nem lei. Todo jornal é, como disse Blondet, uma loja onde se vendem ao público palavras da cor que deseja. Se houvesse um jornal dos corcundas, haveria de provar noite e dia a beleza, a bondade, a necessidade dos corcundas. Um jornal não é feito para esclarecer, mas para lisonjear as opiniões. Desse modo, todos os jornais serão, dentro de algum tempo, covardes, hipócritas, infames, mentirosos, assassinos. Matarão as idéias, os sistemas, os homens, e, por isso mesmo, hão de tornar-se florescentes. Terão a vantagem de todos os seres pensantes: o mal será feito sem que ninguém seja o culpado. Eu serei – eu, Vignon -, vocês serão, tu Lousteau, tu Blondet, tu Finot -, Aristides, Platões, Catões, homens de Plutarco; seremos todos inocentes, poderemos lavar-nos as mãos de toda infâmia. Napoleão explicou a causa desse fenômeno moral – ou imoral, como quiserem – numa frase sublime que lhe foi inspirada pelos seus estudos sobre a Convenção: “Os crimes coletivos não comprometem ninguém”. O jornal pode permitir-se o procedimento mais atroz, ninguém se julga pessoalmente conspurcado por isso".

As Ilusões Perdidas ( Honoré de Balzac)- 1843.

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