agosto 06, 2010

VIVA CHAMA























Tracy Chevalier, mais uma vez, parte de uma personagem histórica e de detalhes de sua época para criar um romance. Neste Viva Chama, o poeta, pintor e visionário iluminista William Blake é o vizinho de uma sofrida família na Londres do século dezoito. A autora imaginou as circunstâncias da criação de sua obra-prima Canções da Inocência e da Experiência, a partir da perspectiva dos vizinhos, em especial, de duas famílias, a que chegou recentemente do interior – que representa a inocência – e a outra que, já costumada à vida em Londres – representa a experiência.
Como nos seus outros romances, faz um retrato encantador e detalhado de época, além de descrever de maneira fascinante a complicada técnica de impressão de gravuras, fabricação das cadeiras Windsor e dos botões Dorset, feitos pelas mulheres da família Kellaway.
Jem é da família que sai de Dorset para Londres, após a trágica perda de um de seus filhos, encorajado de Philip Astley (outro personagem histórico - criador do conceito moderno de circo: com picadeiro e acrobacias), que fazia espetáculos itinerantes pela Inglaterra e França.
Thomas Kellaway, pai de Jem, é fabricante de cadeiras no estilo Windsor. Na chegada à perigosa e nevoenta Londres conhece Maggie, uma menina de sua idade e juntos viverão muitas aventuras pela cidade e aprenderão sobre os mistérios, as maravilhas e as dores da vida, estimulados pelo poeta Blake:

" - Sim, minhas crianças.  A tensão entre os opostos é o que nos faz ser como somos. Não somos apenas  uma coisa, mas o oposto dela também, misturando, se chocando e faiscando  dentro de nós.  Não apenas luz, mas escuridão.  Não só paz, mas guerra.  Não só inocência, mas conhecimento.  – Ele descansou o olhar um instante na margarida que Maisie ainda segurava.  – É uma lição que precisamos aprender: ver o mundo todo numa flor… " (pág. 230).















"– O senhor cria, não é? – continuou Phillip Astley – Desenha as coisas reais, mas seus desenhos, suas gravuras não são a coisa em si, pois não?  São fantasias.  Creio que.  apesar das diferenças… – olhou de lado para o paletó preto e simples do Sr. Blake comparado ao vermelho que ele usava, com seus botões de metal brilhando, lustrados diariamente pelas sobrinhas  — somos do mesmo ramo, senhor: nós dois vendemos ilusão. O senhor com seu pincel, tinta e buril, enquanto eu… – Phillip Astley fez um gesto para as pessoas em volta — …todas as noites crio um mundo com artistas no picadeiro.  Tiro o público de seus cuidados e preocupações e dou-lhe fantasia para ele achar que está em outro lugar.  Mas para ser real às vezes temos que ser reais.  ….
 — ………………………………………………………………………………………….  —-
– Não desenho pessoas reais – interrompeu o Sr. Blake, que ouvia com grande interesse e falou. Então, num tom mais normal, sem raiva.  – Mas entendo o senhor.  Porém vejo de outra forma.  O senhor faz diferença entre realidade e ilusão.  Julga que são opostos, não?
– Claro – respondeu Phillip Astley.
– Para mim, são uma coisa só.  ….  " (pág. 115-116)

Nenhum comentário: