"A lembrança mais antiga que eu guardo de uma Copa do Mundo é reconstruída da perspectiva do banco de trás do Consul 1950 de meu pai. Paramos no pedágio a caminho da fazenda de meu tio e meus pais perguntaram se o funcionário sabia o placar do jogo. Não sei se havia um rádio na cabine do pedágio. No carro, certamente não havia. O ano era 1958 e eu, bem pequena, adorava o clima de excitação que reinava entre os adultos. Na fazenda em que passávamos as férias, de inverno meu avô improvisou uma antena de bambu comprida e torta para tentar ouvir as partidas em ondas curtas. O mundo era muito grande em 1958. A Suécia era inacessível. A locução dos jogos, naquela voz fanhosa, acelerada, impossível de acompanhar, chegava a nós através de roncos e chiados que soavam como a respiração nervosa do Oceano Atlântico. Do outro lado do mundo, Garrincha, Pelé e Vavá vingavam o Brasil da derrota de 1950. Como é possível que uma criança, que mal sabia o que era um drible e ignorava a existência metafísica do impedimento, participasse do sentimento oceânico que tomava conta do País durante a Copa do Mundo?
(...)"
Maria Rita Kehl no Estadão,
Para a continuação, link no título.
Um comentário:
Em época de COPA, desperta, na maioria dos brasileiros, um sentimento patriótico que hiberna por quatro anos. Ruas e automóveis enfeitados com bandeiras (resultado: produção de lixo) famílias inteiras vestindo verde e amarelo,a música composta especialmente para o momento na ponta da língua enquanto o Hino Nacional continua balbuciado.
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