junho 09, 2010

Como abrir novas conexões em um cérebro de meia-idade

"As estantes da minha sala estão repletas de livros. O problema é que, por mais que tenha gostado da leitura, não lembro realmente de ter lido nenhum dos livros. 
Certamente sei os pontos principais. Mas, depois de sublinhar todas aquelas partes interessantes, não retive nada mais? É enlouquecedor e nada excepcional para um cérebro de meia-idade: não esqueço só livros inteiros, mas filmes que acabei de ver, o cafés da manhã que acabei de tomar, e os nomes, ah, os nomes são terríveis. 
Cérebros de meia-idade (que, com o aumento da expectativa de vida, agora vai dos cerca de 40 até quase os 70 anos) também se distraem mais facilmente. Comece a ferver água para o macarrão, vá atender à campainha, e -vupt- a lembrança da água fervente sumiu. 
Daí a pergunta: um cérebro velho é capaz de aprender e lembrar o que aprende? Sim. Embora seja tentador focar nos defeitos dos cérebros mais antigos, os cientistas têm olhado cada vez mais fundo na forma como os cérebros envelhecem e confirmam que eles continuam a se desenvolver durante a meia-idade e depois. 
Muitas opiniões tradicionais, inclusive a de que 40% das células cerebrais são perdidas, foram revertidas. O que está na sua cabeça pode não ter sumido, mas simplesmente se amontoado nas dobras dos seus neurônios. 
Uma explicação sobre como isso ocorre vem de Deborah Burke, professora de psicologia do Pomona College, da Califórnia, que pesquisou aquele fenômeno em que algo está "na ponta da língua", mas não vem à mente. Ela mostrou que isso aumenta em parte porque as conexões neurológicas, que recebem, processam e transmitem a informação, podem se enfraquecer com a falta de uso ou a idade. 
Mas ela também descobriu que, se você ouve sons próximos àquilo que tenta lembrar -digamos, alguém fala em caroço ("pit") enquanto você tenta lembrar o nome de Brad Pitt-, de repente a palavra perdida pipoca na mente. A similaridade nos sons pode ativar uma conexão cerebral débil -associação que costuma acontecer automaticamente e passa despercebida. 
Os pesquisadores descobriram também que o cérebro, ao passar pela meia-idade, fica melhor em reconhecer ideias centrais. Se mantido em boa forma, ele pode continuar construindo caminhos que ajudam seu dono a reconhecer padrões e, consequentemente, ver significados e até soluções muito mais rapidamente do que um jovem conseguiria. O truque é achar meios de manter as conexões cerebrais em bom estado e cultivar outras. 
"O cérebro é plástico e continua mudando, não no sentido de ficar maior, mas de permitir uma maior complexidade e uma compreensão mais profunda", disse Kathleen Taylor, professora do Saint Mary's College, da Califórnia, que estuda maneiras de ensinar adultos com eficácia. "Como adultos podemos nem sempre aprender tão rápido, mas estamos preparados para esse próximo passo do desenvolvimento." 
Os educadores dizem que, para os adultos, uma forma de guiar os neurônios na direção certa é desafiar as premissas que eles se empenharam tanto para acumular quando jovens. Com um cérebro já cheio de caminhos bem conectados, educandos adultos têm de "sacudir suas sinapses um pouco", enfrentando pensamentos contrários aos seus próprios, diz Taylor, 66. 
Ensinar fatos novos não deveria ser o foco da educação adulta, segundo ela. Em vez disso, um contínuo desenvolvimento cerebral e uma forma mais rica de aprendizado podem exigir que você "se jogue contra as pessoas e as ideias" que são diferentes. Numa aula de história, isso pode significar a leitura de múltiplos pontos de vista, e então bisbilhotar as redes cerebrais refletindo como o que foi ensinado mudou a nossa visão de mundo. 
"Há um lugar para a informação", diz Taylor. "Precisamos saber as coisas. Mas precisamos ir além disso e desafiar a nossa percepção do mundo. Se você sempre anda com quem você concorda e lê coisas que concordam com o que você já sabe, você não vai brigar com as suas conexões cerebrais estabelecidas." É exatamente o que os cientistas dizem ser melhor para manter o cérebro afiado: sair da zona de conforto para empurrar e nutrir o seu cérebro. Faça alguma coisa, como aprender um idioma ou pegar um caminho diferente para o trabalho.
"Temos de quebrar o ovo cognitivo e mexê-lo", diz Taylor. "E, se você aprender alguma coisa desse jeito, quando pensar nela de novo terá uma camada superior de complexidade que não tinha antes -e ajudará o seu cérebro a continuar se desenvolvendo também." 

BARBARA STRAUCH

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