fevereiro 02, 2010

ARQUIPÉLAGO HUMANO

"Semanas atrás uma internauta – Fátima Bertolo, passou aqui e fez um comentário inspirador sobre a contradição que estamos vivenciando no relacionamento social face às ferramentas de comunicação eletrônica: quanto mais estas crescem no plano virtual, mais encolhe o contato humano no plano real.

Em vez do Mother’s Day, o Mother’s Board Day.

Parece que todo mundo resolveu terceirizar a vida verdadeira. As lembranças agora são guardadas num pen drive ao invés da memória emocional. As pessoas se reúnem no Orkut, trocam fotos no Fotolog, substituem a palavra falada pela digitada, delegam os cálculos cerebrais pros processadores e deixam a organização de mil coisas do dia-a-dia a cargo de uma personagem magrinha e calculista chamada Mother Board. Uma figura que tá ganhando tanta importância na nossa vida informatizada que, do jeito que a bola tá rolando, logo-logo vai ser ela a grande homenageada no mês de maio. Em vez do Mother’s Day, teremos o Mother’s Board Day.


Relacionamentos profundamente rasos.

Gozações e caricaturas à parte, o fato é que a comunicação via web chegou pra nunca mais ir embora. Sou a favor. Todos nós tiramos proveito disso e a vida atual parece impossível de ser levada sem a internet (veja-se a salada geral que vira tudo quando o maior provedor de São Paulo resolve entrar em pane). O curioso disso, mais do que a ferramenta eletrônica em si, são os filhotes, digamos, “sociais”, gerados por ela. Um deles é o fenômeno “crescei e multiplicai-vos” que se vê nas chamadas “redes sociais” on line. No Brasil, por exemplo, 29 milhões de brasileiros estão grudados nessa teia. E, pelo que constatou o Instituto de Pesquisa Nielsen em 9 países, pesquisando sobre o impacto da web na vida social, nada menos do que 67% dos internautas usam os sites de “relacionamento pessoal” (uma expressão inadequada porque o relacionamento virtual não tem nada de “pessoal”). Junte-se a isso os milhões de internautas conectados no Orkut, Facebook, Skipe, Msn, etc, e o raciocínio vai sendo levado a uma falsa percepção: se tanta gente tá se comunicando com outras tantas, é sinal de que a solidão está com seus dias contados, certo? Errado porque nada é mais raso, fugidio, frágil e esquecível do que os relacionamentos “pessoais” criados pelas ferramentas eletrônicas.

Quem disse que ninguém é uma ilha?

No fundo disso tudo, há um fato óbvio: por mais que milhões se bloguem, internetem, twistem, orkutem, não existe aquilo que é tão essencial e elementar pra cimentar um relacionamento humano: a presença física, o olho no olho, a leitura mútua da linguagem corporal, a troca de afetividade. E isso não se altera mesmo diante da pesquisa do Ministério da Saúde que registrou 7% de internautas que acabaram por se relacionar sexualmente após conhecerem-se pela web. Pode-se até pensar que o relacionamento eletrônico é capaz de preencher vazios emocionais individuais e que, multiplicados aos milhões, comporiam uma sólido continente. Visto de longe, tem-se essa impressão. Mas, ao clicar no zoom e ir pro detalhe como num Google Earth, a gente percebe que o continente é ilusório. O cenário real é um imenso arquipélago com milhões de pessoas que, apesar de estarem se relacionando eletronicamente, continuam isoladas em si mesmas. São ilhas conectadas. Mas continuam ilhas."

Do blog do alexperiscinoto (link no título)

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