outubro 22, 2009

Dia da Criança

"Todos já fomos crianças. Muito parecidas entre si, se levarmos em conta o "nosso tempo" de cada um. Mas o tempo pinta a criança de jovem, logo depois de adulto e mais adiante de idoso.
Um dia, porém, nos perguntamos: "Cadê a criança que estava aqui?" Aquela cheia de sonhos e fantasias, que não parava nenhum minuto e perguntava o tempo todo, desafiando a lógica e a política na mais fascinante simplicidade. Caaaalma! O gato não comeu.
A criança não morreu. Apenas dorme, dentro de você, de mim, de todos nós. Por vezes, permitimos que acorde e fale, surpreendendo aqueles que nos cercam. Isso é agradável e necessário para que tenhamos saúde e equilíbrio.
Não se incomode, pois, com uma repentina vontade de brincar de casinha, de querer ver desenho animado ou de se imaginar herói superpoderoso.
A mente precisa, em todas as idades, de uma farta dose de fantasia para poder lidar com as agruras do cotidiano.
Lógico é que, a cada ação, devam-se estimar as possibilidades de risco, mas para isso existem aqueles que não estão envolvidos na mesma aventura.
"Parece criança!" é a frase que geralmente denuncia alguém atento para moderar as atitudes de quem se permitiu "viajar" em sua fantasia. Para tal, além de alimentá-la, temos que falar dela sem muitas restrições e ouvir quem dela fale sem demonstrar espanto ou contrariedade.
Frequentemente sou procurado por filhos e netos que julgam que seus parentes idosos estejam apresentando um distúrbio de comportamento por estarem pensando em começar um novo negócio ou treinando para uma competição esportiva. Não percebem que a necessidade de enfrentar um novo desafio ou de vivenciar uma experiência inédita alimenta nosso espírito empreendedor.
Em resumo, existe em cada um de nós a mesma curiosidade e o mesmo interesse que manifestamos quando demos os primeiros passos, fizemos as perguntas mais simples e vencemos nossos limites mais básicos. Isso se perpetua pela vida toda, e a necessidade de pertencer ao meio e desafiá-lo se mantém constante.
E quando, em convívio com aqueles que -por motivo de doença- chamam os netos pelos nomes dos filhos ou querem insistentemente voltar para casa mesmo estando nela, saibamos ter a complacência necessária para permitir que possam mudar a realidade sem culpa e sem a necessidade de se enquadrarem na verdade absoluta, mesmo porque esta, racionalmente, inexiste.
Se fomos capazes, um dia, de brincar com nossos filhos ou netos, fazendo de um cabo de vassoura um cavalo imponente ou de uma boneca a filhinha que precisava ser amamentada, haveremos também de saber lidar com essa condição de realidade imaginária manifesta pelo idoso. Basta nos lembrarmos das brincadeiras de outrora.
A criança que fomos um dia viverá sempre no íntimo de cada um. Somos os únicos capazes de mostrá-la ou de mantê-la escondida para sempre."

WILSON JACOB FILHO

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