setembro 13, 2009

Papel parede


Desde que saí a primeira vez daqui, mudei minha relação com livros. Não fazia sentido levá-los para tão longe, quando era certo que teria os do LC, com quem passei a viver. Este exercício de deixar para trás não só livros mas outros objetos pessoais é salutar. Descobre-se que se pode prescindir deles, como de quase tudo. Arrisco a pensar que isto vale também para pessoas.
Com relação aos objetos, hoje em dia, os meus meus desejos não vão além do básico, para ter um relativo conforto. Venho observando, pouco a pouco, este universo ficar mais restrito. Às vezes penso que terminarei meus dias reduzida ao notebook, óculos e remédios! Ih! lembrei que continuo não abrindo mão de usar batom e uns brinquinhos.... Ainda assim, já me tornei muito ' leve' , tenho mais mobilidade. A estas alturas já descobri que mobilidade é a palavra chave para o meu equilíbrio. Preciso sentir que posso 'bater asas' a qualquer momento, deixando o que eventualmente tiver acumulado. Sem dor. Colecionar objetos, mesmo os de uso pessoal, importa em me sentir presa, como se tivesse com bolas de chumbo ligadas por uma corrente à minha perna. Piro.
Com relação aos livros, o prazer que me proporcionam independe de serem, ou não, meus. Assim, além dos que tomo emprestado ( é a primeira coisa que procuro quando vou à casa de amigos) e devolvo tão logo sejam lidos (se não gosto, abandono sem concluir), dos que compro, igualmente me desfaço. Já aconteceu de este 'descarte' ser planejado no ato da aquisição...
Em geral, o destino pode ser alguém que manifesta interesse ou mesmo um amigo distante a quem suponho agradar enviando-o. Lembrar de um livro para mim passa também por lembrar o que fiz dele. Ah! Dei para fulano. Já aconteceu de ter que comprá-lo novamente. Só uma vez. Bem, se não contar que ano passado andei fazendo umas releituras.
Para que serve guardar um romance que sabidamente não iremos reler? É cem por cento certo que há quem gostaria de ter acesso a ele. Seja numa biblioteca pública ou uma daquelas ' tucanos' da vida que fazem locação baratinha e não tem como renovar o acervo. Sem contar os créditos que se obtém nos sebos (me deu saudade do sebo da emiliano perneta, em Curitiba, de onde sempre saía feliz para me fechar em casa...). Na Europa, existe aquele dia de largar um livro num lugar público (banco de praça, metrô, café) e também pegar o que foi abandonado. Não sei se acontece por aqui.
Mesmo não me apegando, alguns foram ficando comigo, seja porque estão em outra língua (fica mais difícil repassar) ou porque tem um oferecimento bacana de um amigo querido. Há mais de dois anos, deixei estes poucos livros (e filmes)em Curitiba. Depois de uns meses do outro lado do Atlântico, de onde enviei alguns para cá, acabei deixando outros em Floripa. Durante este tempo eles continuam por lá, mas não povoam as minhas preocupações.
Li em algum lugar que os livros que lemos num dado momento são mais do que apenas livros, são igualmente diários — ou em última análise são provocadores de registros mentais — de outras e muitas coisas que não vêm nas suas páginas. Talvez seja certo, mas não significa que me sinta presa a eles nem que os considere parte de mim.

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