março 07, 2009

Rua das Etnias

A inauguração da Rua 24 Horas aconteceu dias depois da minha chegada à Curitiba. A primeira festa a que compareci na cidade foi num 14 juillet em que a data francesa foi comemorada numa festa em que as pessoas dançavam na Rua, toda decorada com as cores da França. Tive uma ótima impressão. Aquele povo dançando ao som das músicas francesas, como até então só tinha visto no cinema. Mas ficou por aí...


"A Rua 24 Horas de Curitiba foi inaugurada com muita festa e disposição para que se transformasse em mais um ponto de referência da cidade. Realmente, aos poucos tornou-se um lugar de bom chope e muita conversa. Carecia de banheiros acessíveis, não oferecia recursos adequados para pessoas deficientes, mas isso não impediu, por exemplo, que os deficientes auditivos definissem aquele como sendo um local de reunião informal, o que acontecia com regularidade.
Por motivos que desconhecemos a Rua 24 Horas foi sendo abandonada. O policiamento precário e virando opção de grupos menos simpáticos ao povo mais do que conservador de Curitiba, caiu na desgraça da população mandante. A falta de cuidados com a manutenção fez o resto, levando a administração municipal a anunciar seu fechamento para reformas, algo anunciado até hoje em dois cartazes nas duas entradas principais. Lá vemos que a Rua “será” fechada em 10 de setembro de 2007 para reformas. Nada informa quando será reinaugurada.
Ouvimos do presidente da URBS, durante seu depoimento sobre a URBS na Câmara Municipal de Curitiba na tarde de 3 de março passado, a hipótese de mudar sua função. Uma idéia em discussão seria fazê-la a “Rua das Etnias”. Nada errado para as elites curitibanas, tão ciosas de suas origens. Incomoda, entretanto, o cheiro de racismo e a possibilidade dos “estrangeiros” mais recentes de se competir com aqueles que exibem a honra de serem descendentes dos primeiros que chegaram por aqui, deslocando os povos indígenas que viviam nessa terra. Pior ainda, a ênfase em detalhes biológicos e culturais perigosos.
Desconfiamos, acima de tudo, de preconceitos que deveríamos evitar. Eric Hobsbawm denuncia, explica, relata, demonstra em seus livros o que significou o nacionalismo tribal que passou a dominar a humanidade conduzida pelos grandes proprietários de terra e palácios europeus, assustados com os movimentos revolucionários de 1848 e a Comuna de Paris, o socialismo que surgia com força. Fala, inclusive, do terrorismo mais do que atual, escatológico, criado pelos ambientalistas quando dezenas de milhões de seres humanos vivem como refugiados políticos. Para não esquecermos o que foram aqueles tempos das raças puras, filmes recentes mostram o lado tenebroso do nazismo.
Vemos o receio de se revitalizar a Rua 24 Horas. Não estaria nisso um pouco da síndrome da Rua Castro, tão bem mostrada no filme “Milk – A voz da Igualdade”, título que talvez fosse melhor se falasse em voz da liberdade? Era idéia corrente entre os curitibanos referir-se a esse logradouro como lugar de homossexuais e prostitutas. E se fosse? Nada mais lógico, pois pensando apenas em termos percentuais Curitiba deve ter gente com opções sexuais e profissionais diferentes capazes de encher algumas ruas tão pequenas quanto aquela travessa.
Está na hora da capital paranaense ser mais democrática, livre. Infelizmente a tradição da cidade não era muito simpática. A Boca era lugar de agressões verbais a quem não agradasse aqueles que lá paravam para seus momentos de lazer e ...
Tradições, etnias, muitos costumes e comportamentos cheiram a vícios tribais e inquisitoriais. Vamos reinaugurar a Rua 24 Horas sem lhe impor padrões culturais? A liberdade é importante demais para se perder em meio a preconceitos mal confessados."
João Carlos Cascaes
http://liberdadesempreco.blogspot.com/

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