fevereiro 26, 2009

A amiga do hipotálamo


"Você, que tem um parafuso a mais, não pode deixar de ler este texto" É com este "argumento" que a REVISTA PIAUÍ recomenda a matéria, da jornalista Daniela Pinheiro, sobre LAURITA MOURÃO (leia o texto integral clicando no título).
Esta figura, hoje com 82 anos, que é autora de Incesto em Segundo Grau – sobre uma avó que tem uma noite de prazer sexual com o neto de 20 anos – e a coletânea de contos Decamourão, inspirado em Boccaccio, ambos publicados pela editora Record, costuma dizer que só há dois assuntos que merecem ser tratados com seriedade: a fé e o sexo.
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“Meus livros são todos medíocres, você bem deve saber”, reconheceu. “Mas eu não ligo muito.” Perguntada o que a levou a se candidatar, duas vezes, à Academia Brasileira de Letras, respondeu: “Eu acho que poderia levar uma coisa diferente para a Academia. Meus amigos perguntavam: ‘O que o Pitanguy escreveu?’, ‘O que o Marco Maciel fez de memorável?’ Pelo menos, os meus livros são -animados”, respondeu. “Eu ia levar um pouco de alegria para lá. Aquilo deve ser uma chatice, cheio de velhos. Detesto velho.” (Nas duas tentativas de entrar na Academia, não recebeu sequer um voto.)
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Cheia de vida, fala com entusiasmo e sem afetação. Com gestos delicados, costuma interpretar as histórias, mudando o tom de voz, imitando sotaques e fazendo posturas corporais. Quando um interlocutor inconveniente a interrompe, ela simplesmente se cala. Salpica seus relatos com frases e expressões de meia dúzia de idiomas.
Funcionária aposentada do Itamaraty, viveu por meio século no exterior. Passou pelo Uruguai, Argentina, França, Estados Unidos, Espanha e Caribe. Voltou para o Rio no final dos anos 80 e foi morar num apartamento alugado, de 450 metros quadrados (hoje com sinais eloquentes da ação do tempo e da maresia), decorado com excesso de móveis, quadros, cortinas, tapeçarias e fotografias desbotadas.
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No final dos anos 70, ela provocou mal-estar no Itamaraty ao publicar À Mesa do Jantar, um livro de memórias no qual relatou algumas de suas aventuras sexuais com embaixadores, cônsules e diplomatas estrangeiros. Por ter elencado os casados, os separados, os solteiros e os muito jovens, ela estima ter vendido 10 mil exemplares. Tentou disfarçar os nomes, mas nem tanto. Um embaixador de sobrenome Carnaúba, por exemplo, virou “Babaçu”, mas com grafia árabe: Bab-Hassuh. O diplomata Egberto Mafra, de quem ela chegou a engravidar, foi tratado como Gilberto Marques. Outro embaixador, conhecido no governo Fernando Henrique Cardoso por um apelido de criança, teve que se explicar em casa. O livro trazia novidades inclusive para a família de Laurita. Nele ela conta que o verdadeiro pai de sua filha mais nova era o sobrinho de seu marido. “Fiquei semanas na lista dos livros mais vendidos. Era convidada para programas de debates na televisão e até reconhecida na rua”, “Para mim, foi importante aquela catarse. Mas fiquei com fama de escandalosa. Aliás, sempre tive má fama. Hoje, o livro poderia ser dado para meninas que estão fazendo primeira comunhão.”
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Hoje ela só pensaa na Carla Bruni e diz “Aquele Sarkozy tem cara de quem gosta do meu esporte. Aliás, os franceses, te digo com experiência, são os melhores amantes do mundo. Na cama, eles acham que as mulheres são iguais a eles, que têm os mesmos direitos.” Já os americanos são péssimos. “Na hora dos prolegômenos, eles são primários. E têm um complexo de culpa que... haja saco!”, comentou. Pedi que explicasse melhor e ela disse: “O americano se deita com você, tem orgasmo e depois fica repetindo: ‘Oh, Jesus, eu estou traindo minha mulher... Oh, que horror, oh, que pecado, como sou um son of a bitch.”
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A desenvoltura em lidar com a própria sexualidade, ela atribui muito à criação que recebeu do pai, o general Olympio Mourão Filho, que entrou para a história em duas quarteladas. Foi ele o autor de um documento falso, o Plano Cohen, que serviu de pretexto para Getúlio Vargas reprimir o avanço comunista e instalar em 1937 a ditadura do Estado Novo. Também foi ele quem, na tarde de 31 de março de 1964, antecipando-se ao que havia sido acertado pelos militares de maior patente que a sua, fez marchar tropas de Juiz de Fora rumo ao Rio, para derrubar o presidente João Goulart. O general Mourão também é lembrado por uma frase que deu identidade aos golpistas. Ao ser indagado sobre o teor de uma reunião que tivera no Palácio do Planalto, respondeu: “Meu filho, em matéria de lei, sou uma vaca fardada.”
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Entre 1955 e 1964, o general escreveu um diário, que o historiador Helio Silva transformou em um livro intitulado Memórias: a Verdade de um Revolucionário. Em 1978, Laurita conseguiu embargar a publicação do livro, alegando que se tratava de um diário íntimo de seu pai. Helio Silva divulgou então um bilhete, escrito à mão por Mourão e entregue a ele junto com os cadernos, afirmando que o acadêmico “era o único a ter coragem de publicar” o que havia escrito. Também anexou ao processo uma declaração da última mulher do general confirmando a doação. Seis meses depois, a ação foi revogada e o livro foi publicado.
Dois anos depois, ela tentou novamente impedir Helio Silva de divulgar os originais da defesa que Mourão apresentou a um “tribunal de honra” do Exército esclarecendo sua participação no Plano Cohen, organizada no livro A Ameaça Vermelha: o Plano Cohen. “Sou a única filha dele e acho que tenho o direito de ter a gerência e os direitos autorais sobre os escritos do meu pai”, ela justificou. “Mas dessa vez, meus advogados queriam me cobrar 5 mil dólares pela ação e tive que desistir”, contou.
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Em 2002, Laurita resolveu abandonar os textos de cunho erótico para escrever a sua versão dos episódios protagonizados pelo pai. Em quatro meses, ela produziu as 423 páginas de Mourão, o General do Pijama Vermelho. O título faz alusão ao robe de seda usado pelo militar quando disparava os telefonemas de articulação do golpe.
“Ele mudou a história do país por duas vezes, e em ambas foi mal interpretado”, disse. Laurita defende que o pai serviu de bode expiatório e foi enganado no Plano Cohen. Segundo ela, o rascunho escrito por Mourão foi “desviado” para outros fins, sem sua anuência. Em 1964, houve outro equívoco. “Meu pai nunca foi a favor do fechamento do Congresso”, disse. “Inclusive mandou tropas à Brasília para impedir isso no momento da instauração do Ato Institucional nº 5. Ele era um homem das instituições.”
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Nos anos 80, ela pediu para ser transferida para o serviço consular em Nova York. Conseguiu um apartamento em frente ao Central Park, com um aluguel razoável. Para complementar a renda, ela fazia bicos como motorista, pianista de restaurante francês, professora de português e tradutora.
Foi quando escreveu Alice do Quinto Diedro, ambientado na cidade. Laurita conta a vida da “mulher revolucionária, a mulher do ano 2000”, liberada sexualmente, viajada e bem-sucedida. “Era a história da mulher que eu queria ser”, disse. No livro, a protagonista vive uma “orgia cósmica” no 45º andar do World Trade Center. O sexo havia se tornado “algo sagrado: nunca adiado ou omitido” e o governo do planeta Terra, que havia sepultado guerras e conflitos há anos, estava nas mãos de um “computador cósmico central”. .
Não deixe de ler a íntegra, clicanco no título.

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