janeiro 18, 2009

Resposta ao Tempo

"Batidas na porta da frente é o tempo
Eu bebo um pouquinho pra ter argumento
Mas fico sem jeito, calado, ele ri
Ele zomba do quanto eu chorei
Porque sabe passar e eu não sei
Um dia azul de verão, sinto o vento

Há folhas no meu coração é o tempo
Recordo um amor que perdi, ele ri
Diz que somos iguais, se eu notei
Pois não sabe ficar e eu também não sei"

Este é um trecho da música do Aldir Blanc/Cristovão Bastos de que gosto muito e cantarolo de vez em quando (pode ser encontrada aqui no blog - cantada pela Nana Caymmi).
Quando pensamos que temos respostas para tudo, até para o tempo, surgem novas indagações...
Disseram-me que, ao me referir ao tempo, venho adotando escalas que faço variar conforme a idade das pessoas. Inclusive a minha. Como tenho menos futuro do que passado e digo isto assim desse meu jeito, meio cru e direto, talvez soe pesado.
Será por induzir, de um certo modo, à consciência deste fardo inescapável ? ou por suporem que estou com depressão "senil" (ops!)? Seja por qual razão for, confesso que nem tinha me dado conta. Mas, ainda que não se trate de ter "dois pesos e duas medidas", a realidade se impõe: a medida do tempo muda quando já se gastou, pelo menos, a metade dele.
Uma das minhas avós, que não chegou aos noventa (a outra foi a 103, andando com as próprias pernas e não ficou “desmemoriada”), além de jogar buraco, fazia crochê com as irmãs, a quem ela se referia como “as meninas”. Um dia, contrariando seus hábitos mais arraigados, saiu de casa em pleno meio dia, no maior calor, levando a toalha em que havia acabado de dar o último ponto. Havia apostado com as “meninas” que ia conseguir, não só começar, mas terminar a toalha, enquanto elas sustentavam que só ia dar tempo para fazer um centro de mesa.
Passei grande parte de minha vida insensível ao fato de que, naquele tempo, entre elas (todas em torno dos oitenta), a relação com o tempo ia sendo tecida tendo como medida toalhas ou centros de mesa.
No meu mundo de criança ficava, por ali, sofrendo pela hora de brincar que não chegava, as férias que demoravam, o meu aniversário então...Era ano que não acabava mais até novembro!
Hoje, os meus dias já não tem nomes, o tempo é contado por periodos "entre datas", entre ocorrências. São elas que marcam a minha não rotina. O que se quer, o que se busca, não é suficiente para alterar essa relação. Qualquer luta contra o tempo, já se sabe, é inglória. Não adianta tentar se iludir com liftings ou tesão com cheiro de farmácia. A nossa história, o calendário e o espelho não permitem que a gente se engane. O que considero positivo.
É certo que a perspectiva varia para cada pessoa, mas a verdade, e o tempo que tudo apaga não apaga a verdade, é que ele passa.
Simples assim e sem segunda chance!

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