janeiro 13, 2009

A poética da biologia

Em que pese me encontrar na cidade recomendada pelo NYT , passei os últimos tres dias na janela para o mundo, que é o meu laptop, ou na Barcelona maldita e misteriosa d ' O Jogo do Anjo que começa assim:
“Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita algumas moedas ou um elogio em troca de uma história...
Um escritor está condenado a recordar esse momento porque, a partir daí, ele está perdido e sua alma já tem um preço
.”

A encomenda do “anjo” é um livro com potencial de influenciar milhões de vidas. Dentre muitos, escolhi este diálogo entre o anjo e o escritor, a propósito da fé:
“....
- Gostaria de começar perguntando o que é a fé para você?
Refleti alguns instantes.
- Nunca fui uma pessoa religiosa. Mais do que acreditar ou não acreditar, tenho dúvidas. A dúvida é minha fé.
- Muito prudente e muito burguês. Mas jogando a bola para fora não se ganha a partida. Que explicação daria para o fato de crenças de todo tipo aparecerem e desaparecerem ao longo da história ?
- Não sei. Suponho que serão os fatores sociais, econômicos e políticos . Está falando com alguém que deixou de frequentar a escola aos 10 anos. História não é o meu forte.
- A História é onde a biologia deságua, Mártin.
- Acho que não fui à aula no dia que deram essa lição.
- Essa lição não se aprende ma escola, Mártin. Ela nos é dada pela razão e pela observação da realidade. Essa é a lição que ninguém quer aprender e, portanto, a que devemos analisar melhor para poder fazer nosso trabalho direito. Toda oportunidade de negócio tem seu ponto de partida na incapacidade de uma outra pessoa para resolver um problema simples e inevitável.
- Estamos falando de religião ou de economia?
- Pode escolher a nomenclatura.
- Se entendi bem, está sugerindo que a fé, o ato de acreditar em mitos, ideologias ou lendas sobrenaturais, é consequência da biologia.
- Nem mais nem menos.
- Uma visão um tanto cínica para um editor de livros religiosos - comentei.
- Uma visão profissional e desapaixonada - amenizou Corelli. - O ser humano acredita como respira, para sobreviver.
- Essa teoria é sua?
- Não é uma teoria, é uma estatística.
- Ocorreu-me que tres quartos do mundo, pelo menos, estariam em desacordo com essa afirmação – comentei.
- Claro. Se estivessem de acordo, não seriam crentes potenciais. Não se convence ninguém da verdade de alguma coisa na qual não precisa acreditar por imperativo biológico.
- Está sugerindo então que viver na ilusão faz parte de nossa natureza?
- Sobreviver faz parte de nossa natureza . A fé é uma resposta instintiva a certos aspectos da existência que não podemos explicar de outra forma , seja isso o vazio moral que percebemos no universo, a certeza da morte, o mistério da origem das coisas ou o sentido da própria vida, ou ainda a completa ausência dele. São aspectos elementares e de extraordinária simplicidade, mas nossas próprias limtações nos impedem de responder de modo compreensível a tais perguntas e por isso criamos, como defesa uma resposta emocional. É pura e simples biologia."


E por aí vai...
Ainda não terminei. Ontem, para desenferrujar, andei quatro kms e puxei os ferros na academia.

Um comentário:

Anônimo disse...

Amiga,
eu tenho razão, ande-se por onde andar, pense-se o que pensar, leia-se o que se leia, a nossa existência é simplesmente redonda.
Beijinhos