Que eu adoro cinema todo mundo sabe. Falar de cinema com quem também gosta é um desdobramento deste prazer. Ontem, no "frescobol" que joguei com o Fer, volta e meia, estávamos falando de algum filme. Sempre registrei o que leio ou ouço sobre filmes para não esquecer de assistir. O que fazia em qualquer lugar e acabava perdendo, agora compartilho com os amigos aqui, trago o trailer, algum comentário...
Nem todo mundo está encarando, com facilidade, sair de casa, enfrentar trânsito/estacionamento/fila, sem saber o que vai ver. Outros me escrevem contando que, simplesmente, o cinema de sua cidade fechou e que tem "baixado"(!?) filmes recomendados aqui no blog.
Este pode não ser "o filme" (como ressalvou o meu amigo), mas é muito provável que seja interessante. As suas dicas sempre são boas!
O nome do filme HAPPY-GO-LUCKY - não sei se já tem título em portugues - é uma expressão idiomática britânica que descreve a pessoa que passa pela vida sem preocupação, sem problemas, como se vivesse no melhor dos mundos.
A personagem Poppy é uma professora solteira que vive em Londres e que nunca se deixar contagiar pelo mau-humor de seu diretor nem pela sua dominadora professora de flamenco e muito menos por sua irmã, grávida e infeliz. Sempre vestida de cores berrantes, sacolas friques, brincos vermelhões e botas de pele de cobra, ela anda por Londres como quem salta por campos floridos. E quando lhe roubam a bicicleta (o que acontece no início do filme), o máximo de sua reação é dizer: “Ora bolas. Nem tive tempo de me despedir dela.”
Com este perfil Poppy tem tudo para nos irritar ("quem é que aguenta uma pessoa que nunca se chateia com nada?"). Acontece que esta aparente cabeça no ar mascara os seus pés bem assentados no chão e , na verdade, não passa de uma estratégia de sobrevivência tão válida como qualquer outra: aproveitar cada dia, ver sempre o lado bom das coisas, deixar-se deslumbrar pelos pequenos nadas do quotidiano...
O que qualquer um de nós devia fazer.

Do site CINERAMA:
“Happy-Go-Lucky” é também um ensaio sobre a educação e a aprendizagem, de como uns usam o conhecimento para se libertarem e outros acorrentam as suas mentes com regras e falsas expectativas. Ao contrário de ambas as suas irmãs (Kate O'Flynn e Caroline Martin), Poppy recusa-se a que a vida a derrube ou a deprima, elevando-se acima do cinismo que o sorriso da sua companheira de casa Zoe (Alexis Zegerman) já não consegue esconder. Num mundo onde os pais cada vez mais abdicam das suas responsabilidades como educadores, “Happy-Go-Lucky” fala ainda da responsabilidade dos professores em identificar as dificuldades emocionais dos seus alunos.
“Happy-Go-Lucky” contraria a miséria pessoal que habitualmente habita o universo de Mike Leigh e é, possivelmente, a sua obra mais refrescante (colorida da forte paleta da fotografia de Dick Pope). Felizmente, isso não impediu que o seu trabalho com os actores (“explorados” em workshops de improvisação) mantivesse uma caracterização detalhada. Sally Hawkins (“Cassandra’s Dream”), vencedora do Urso de Prata da última edição do Festival de Berlim, vai de uma exuberância que começa por ser estranha, porque atípica, passando por uma fase quase irritante (quem é que aguenta uma pessoa que nunca se chateia com nada?) e terminando por se adentrar e contagiar-nos com a vontade de ser também a assim (a expressão ‘lust for life’ é incontornável).
Talvez num mundo cheio de tragédias, numa vida onde a sorte não tem lugar, seja possível manter-se a inocência, a abertura aos outros, a compaixão, tudo isso sem ter de pedir desculpa por quem somos. Um filme sobre a aprendizagem a vários níveis. Porque ser feliz também é disciplina".
Nenhum comentário:
Postar um comentário