novembro 12, 2008

O Dicionário do Amor

Quem já se apaixonou sabe de que Roland Barthes fala quando diz: “O sujeito apaixonado é atravessado pela idéia de que está ou vai ficar louco”.
Fragmentos de um discurso amoroso é um livro que atrai pelo título e, ao folheá-lo, nos vemos diante de um texto repleto de aforismos e “fragmentos”que se oferecem à uma leitura aparentemente distraída do amor. Tudo no livro surge como “algo que se leu, ouviu, experimentou”.
Pouco importa, no fundo, que a dispersão no texto seja rica aqui e pobre ali: há tempos mortos, muitas figuras modificam-se; algumas, sendo hipóstases de todo o discurso de amor, possuem a própria raridade - a pobreza - das essências: que dizer da Languidez, da Imagem, da Carta de Amor, uma vez que é todo o discurso de amor que está tecido de desejo, de imaginário e de declarações”.
Segundo o próprio Barthes “querer escrever o amor é enfrentar a desordem da linguagem: esta terra de loucura em que a linguagem é ao mesmo tempo muito e muito pouco excessiva (pela expansão ilimitada do eu, pela subversão emotiva) e pobre (devido aos códigos com os quais o amor a rebaixa e avilta)”.
O livro é um diário da paixão e trata do que todos que se apaixonaram viveram, “o elogio das lágrimas”, “o ciúme”, Que fazer?”, “O coração”, “A ressonância” e outros temas que são apresentados em verbetes.
Em cada verbete, o sujeito do discurso amoroso registra as angústias mais veementes de um coração apaixonado e nos faz refletir acerca de ações banais, como a espera de um telefonema (ou a dúvida quanto a ligar ou não), o ciúme inexplicável que sentimos ao ver um terceiro falando do nosso ser amado ou simplesmente o delírio da paixão amorosa.
Barthes, combinando citações e suprimindo aspas, parece confirmar que "não se copiam obras, copiam-se linguagens". Na linguagem dos enamorados como seres solitários e incompletos, o discurso do amor surge como sentimento incompreensível. O livro, através de inúmeras citações e exemplos do tema confirma que é como o próprio ser amado descrevendo-se: lê-lo é conhecer o desconhecido eternamente. "[...] tudo se representa, pois, como uma peça de teatro". ....."O apaixonado é, portanto, artista e o seu mundo é bem um mundo às avessas, pois toda a imagem é o seu próprio fim (nada para lá da imagem)"
Há quem acredite tratar-se de um livro para quem ama poder amar ainda mais. Para quem amou, sentir saudades e querer amar novamente. Ou para quem ainda desacreditado no amor, queira um dia amar, mas que não se contente com qualquer amor.
Ou seja, para os desavisados acerca da natureza patológica da paixão.

Nenhum comentário: