Mas o que dizer da sensação de familiaridade com outra cidade, ao ponto de estando nela experimentar, num inexplicável " à vontade", o conforto de estar revendo algo conhecido que sempre esteve ali e dentro de nós, de viver em constante e, às vezes, perturbável déja vu ?
Andei pensando nisto...Vamos ao que ele me escreveu relacionando a sua pequena Vila do Conde à Paris ...
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Numa das minha idas matinais para o trabalho, dei comigo a interrogar-me porque é que gostava tanto de Vila do Conde e de Paris.
E porquê Vila do Conde, cidade onde nasci, mas que é povoada por uma gentinha tão comezinha, pacóvia e maldizente, que até muito antipatizo?
Acontece, que descobri que essa pequena cidade não foi danificada pelos tempos modernos, tudo está impressionantemente igual ao que era há 40 anos atrás (evidentemente restaurado e mais asseado) . Está lá o pelourinho, os paços do concelho, as ruas antigas, as pastelarias, o garanjeiro que repara as bicicletas , o rio, a praça da republica, o casario, a rua da fraga, as mesmas ourivesarias, as mesmas lojas no mercado municipal, os mesmos stands de automóveis, as mercearias, as retrosarias, os monumentos bem conservados, o rio Ave corre tranquilo, poluído, mas não comprimido, o pinhal, as vielas as tascas, as mesmas avenidas, a casa onde almoçava aos 10 anos de idade, o jardim, e aquele céu aberto sem mamarrachos em altura, aquela luz, a luz da minha existência, que ora me fascina ora me perturba!!
Paris , conheci-a (muito jovem, na literatura) pessoalmente, em 1978, voltei lá várias vezes, e foi sempre com emoção e verifiquei que ela pouco se transfigurou , é curioso que no centro da cidade, dificilmente se vê um edifício novo e tive sempre a sensação que o ambiente nas ruas foi sempre o mesmo. Lá estava a Ópera, Place Vendôme, Lafayette , Printemps, salvo a lendária Samaritaine, que encerrou portas, a Cité, Pigalle, Boulevard de Clichy, Moulin Rouge, Folies Bèrgere, Bois de Boulogne, o café Flore, Les Deux Magots, , os Monoprix e Prisiunic, a praça da Concórdia, o jardim das tuileries, o jardim de Luxemburgo, a Conciergerie , etc etc….dificilmente via um edifício degradado.
Tudo isto se aflorou no meu espírito por causa da proposta de nos encontrarmos em Paris, e que fez activar em mim a sensação que ora Vila do Conde ora Paris me transmite de um reconfortante sentimento de estabilidade. Assim como uma sensação de segurança , neste mundo onde tudo muda de forma perturbante, que por vezes, baralham-se-me os espíritos e os sentidos.
Dou por terminado o devaneio de um sentimentalista provinciano!
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Não se trata de mero devaneio...quem não tem dois amores?
(foto do Antonio: Este um afluente do Ave)
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