setembro 16, 2008

DIÁRIO DE UM ANO RUIM

Após concluir A Cidade e as Serras que abandonara inacabado há pelo menos trinta anos,deliciosamente surpreendida com a sua atualidade, pela sátira que faz ao culto da tecnologia e à sociedade atual, comecei hoje a ler o Diário de um ano ruim , o novo romance de J.M. Coetzee (Nobel, em 2003).
Alternam-se a cada página os temas ensaísticos,que teriam sido encomendados por um editor, em que expõe suas opiniões hetedoxas sobre temas da atualidade (terrorismo, desastres ecológicos, histeria consumista, manipulação genética...) e os seus pensamentos íntimos na história do escritor (personagem) que contrata uma bela vizinha para ajuda-lo como secretária e digitadora e, naturalmente, acaba apaixonado por ela. É um "livro dentro do livro". Esta alternância permite uma leitura (como estou fazendo)do enredo da paixão do escritor (personagem) e suas reflexões sobre a velhice deprimente (parece pleonasmo!) que são completamente independentes dos ensaios, no conteúdo, na fonte e na diagramação.
Coetzee se aproxima de Montaigne* no interesse pela morte. (Montaigne celebrizou a frase de Cícero “filosofar é aprender a morrer”) e não teme desafiá-la com suas questões, resistindo a ela com o pensamento
A Velhice por Coetzee :
“Meu quadril doeu tanto que hoje não consegui andar e mal conseguia sentar. Inexoravelmente, dia a dia, o mecanismo físico se deteriora . Quanto ao mecanismo mental , estou continuamente alerta para as engrenagens quebradas, fusíveis queimados, esperando sem esperança que ele sobreviva ao seu hospedeiro corporal..
Do Envelhecimento por Montaigne: “Quanto a mim , considero como certo que, a partir dessa idade, tanto meu espírito como meu corpo mais diminuíram do que aumentaram, e mais recuaram do que avançaram . É possível que, para os que empregam bem o tempo , o conhecimento e a experiência cresçam com a vida; mas a vivacidade a prontidão , a firmeza e outras qualidades bem mais nossas, mais importantes e essenciais fenecem e enlanguescem”
* Michel de Montaigne : foi um nobre francês que no século XVI decidiu se trancar na torre de seu castelo onde permaneceu durante anos, criando uma abrangente compilação de textos que é considerada uma das mais importantes obras de literatura ENSAIOS tendo como base o mundo à sua volta, escreveu sobre si mesmo .

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi, maluquete, quando há um tempinho fico olhando o teu blog. É muito legal. Encontro coisas que gosto de ler e ver. Bjim.


hugo cezar medina

Anônimo disse...

Fico como Montaigne
Bjs
Lala